5.8.09

MARROCOS


Mochila nas costas e sem limites de velocidade. Atrás, o carro que alugamos. Começo da viagem. Casablanca, 27 de maio de 2009.

[Enfim o texto do Marrocos, mas ainda é a primeira parte]

Ao som de Manu Chao, trilha sonora de TODA a viagem, me inspiro pra escrever sobre o Marrocos.

Dois boratchos durante uma noite a la fundo blanco, têm a idéia de ir para o Marrocos. E assim, boratchos, compram as passagens para Casablanca. Um me liga e lança a idéia. Mas estou em aula, digo. Deixa de frescura, Brecht! Tá, vamo nessa! E já compro as passagens. Ligo para o quarto integrante da expedição, que fica enrolando e só compra a passagem dois dias antes da viagem. Grupo formado!

Mas ficam as dúvidas, que vamos encontrar lá, que cidades a gente vai visitar, como fazemos tudo..? Para isso existe a Lonely Planet! Livro comprado horas antes do vôo Madrid-Casablanca. Sem esse livro e claro, o mapa da Michelin, não sei como faríamos tudo. Foi providencial.

Atravessando o Estreito de Gilbratar e tentando bolar um roteiro, que foi sempre modificado, aquele velho papo de foco. Mas que bom.

Chegando em Casablanca, alugamos um carro, depois de muita conversa pra baixar o preço, claro. O aeroporto fica a 30 km do centro de Casablanca. Só eu tenho carteira, então vamo lá! Liga o carro, porra! Calma doido! Liga o som! Eita caralhoo! Só música árabe! Pegando a estrada, esquecemos de encher o tanque, gasolina acabando, mas por sorte achamos um posto. Quem trocou dinheiro, hein? Eu não brother, todos dizem. Depois de muita confusão tentando trocar dinheiro, passamos no cartão, tão fácil né. Agora a gente chega! uhu! Mas tinha um pedágio no meio do caminho, a moça só falava francês. Depois de várias tenativas de explicar a situação,[hablas español?, do you speak english?, sprichst du deutsch?], o taxista que tá atrás impaciente troca dinheiro pra gente. Será agora que a gente chega?

Não antes de quase enlouquecer no trânsito, o mais caótico que já vi! Centenas de mobiletes antiguíssimas e barulhentas, carros, caminhões, pedestres, cavalos, passam tirando fino do retrovisor, trancando a gente, nos xingando em árabe. Foi uma tarefa difícil dirigir lá, deu vontade de largar o carro no meio da rua. Depois de alguns sustos no trânsito e de muito rodar pra achar uma casa de câmbio, deixamos o carro no estacionamento e fomos atrás do albergue.

Sem problemas para achar o albergue, que ficava dentro da Medina, o centro histórico que toda cidade do Marrocos têm. Deixamos as coisas e fomos átras do famoso cuzcuz marroquino, sem sucesso. Depois viemos descobrir que não é servido todos os dias, pois faz parte da tradição de lá, só viemos comer o tal cuzucuz marroquino em Fèz. Caminhando pela Medina vemos um bar de teto bem baixo e rebuscado cheio de homens tomando café ou o chá assistindo algum programa nas várias televisões espalhadas pelo salão. O ambiente era meio opressor para nós, turistas, e nem pensamos em parar pra tomar um chá e trocar idéia com o dono ou tirar foto. Seguimos e claro, nos perdemos naquele emaranhando de vielas. Avistamos a Hassan II e seguimos para lá, não antes de pegar a direção oposta átras do cuzcuz e comer um sanduíche que tinha até arroz dentro, com uma Coca-Cola.

Enfim, a Hassan II, a construção mais impresionante que vi no Marrocos e uma das coisas mais grandiosas do mundo. É a terceira maior mesquita do mundo, construída em 1993 pelo então rei, Hassan II, custou 500 milhões de dólares americanos. Ao redor da mesquita, favelas. Ao mesmo tempo impresionante de se ver e revoltante, com tanto dinheiro podia-se construir uma nova Casablanca, bem menos miserável.

Passamos horas olhando a mesquita e tirando fotos, isso porque não entramos, pois a entrada só é permitida aos muçulmanos. E quando deu 21h, a última oração do dia, Salát Al-Ichá (A Oração do Anoitecer). Um homem entoava algo que ressova por toda a redondeza, era muito forte, tinha muita energia. A mesquita parecia nos atrair magneticamente, não conseguiamos sair de lá, e quando, enfim saímos, íamos olhando pra trás o tempo todo.

Fomos atrás de algo pra comer e de uma cerveja, à beira da praia, me sentia em alguma cidade no litoral do nordeste, uma cerveja ia cair muito bem. Mas, para meu desespero, não se vende alcóol em todos os lugares do Marrocos, sendo muito raro de encontrar. Suco de laranja então! Uma das especialidades do Marrocos. Ainda pedimos leite quente, sem entender o menu, pensando que era algo típico de lá! hahaha

Indo pro albergue andando, nos sentimos no Brasil, devido a uma certa sensação de insegurança, mas chegamos bem e ainda a tempo de pegar a porta aberta, que fechava de meia noite.

Acordamos e fomos ver a Hassan II por dentro no horário de visitação. Nos impresionamos mais ainda com o que havia dentro, portais enormes, mosaicos multicor, banheiro turco. Tudo incrível, mas não dava pra esquecer a pobreza que havia do lado de fora, um contraste gritante.

Hora de ir pra Rabat, a capital. Estrada com pedágio, mas bem barato, paracia um tapete, me senti numa Autobahn alemã, tanto que o radar da polícia acusou excesso de velocidade. Fomos parados, mostramos os documentos, nos informaram que a gente ia ter que pagar uma multa, conversa vai, conversa vem e o policial pergunta de onde somos. Brasil, respondemos. Ah, Sócrates, Péle, Ronaldinho! - fala o policial. Ainda bem que tinha dois entendidos de futebol no carro, aí ficaram conversando sobre os times do Brasil, do Marrocos e o guarda liberou a gente. Futebol mostrou-se uma forma infalível de se livrar de multas no Marrocos em mais duas ocasiões, na última já tinhamos todo o script na cabeça inclusive. Então seguimos viagem, um pouco mais devagar.

Chegando em Rabat [ao som de Chico Science, O Cidadão do Mundo] já podemos ver muita diferença em relação à Casablanca. Cidade mais rica, organizada, o trânsito nem enlouquecia. Era tão relax dirigir lá que decidimos dar uma volta pela cidade de carro e só mais tarde ir atrás do hostel. Fomos, claro, pra praia, já que Rabat fica na costa. Chegando lá, um cemitério enorme na beira da praia, muito inusitado. Saudade de mar, então vamo entrar na água! Alugamos um body board e fomos que nem crianças correndo loucamente pra água. Colocando o pé na água, que frio! Mas isso não impediria nunca de entrarmos. Ficamos pegando onda, brincando com as crianças e tremendo de frio. Na areia tava rolando uma pelada e pedimos a próxima. De onde são, perguntaram. Quando dissemos, enlouqueceram, fizeram um campo marcado na areia, se reuniram, fizeram táticas, e durante o jogo nos deram milhões de caneladas. Começamos ganhando, mas o jogo terminou empatado em 4x4, resultado vergonhoso para nós e vitória para eles. Nossa desculpa foi que ficamos abalados porque haviam roubado nossas coisas que estavam na areia. Ainda bem que eram só as camisas, havaínas e meus óculos de sol.

O sol vai mergulhando no mar, hora de achar o albergue. Lá conhecemos os parceiros, brothers de toda a viagem, los hermanos, nossos amigos argentinos. Que haviam pegado o mesmo vôo com a gente, e já havíamos nos encontrado em Casablanca. Então fomos comer algo e pensar nas próximas cidades e o que iríamos fazer amanhã. Essa sensação de sentar, abrir mapa e livro e programar viagem é uma das melhores sensações que se pode sentir, não sei nem explicar isso.

No outro dia, conhecemos a medina da cidade, mais algumas partes da praia e partimos. Agora pra Meknés, uma das quatro cidades imperiais. Que sem a dica dos hermanos nem iríamos conhecer. Lá estacionamos um carro e um guia queria nos mostrar a medina por alguns dhs (lê-se dirans, a moeda marroquina). Um pouco desconfiados, mas fomos com ele, que nos mostrou a medina e a parte onde se fazia trabalhos com ferro. Muitas crianças trabalhando, o que parece não condizer com a estatísticas oficias sobre trabalho infantil, que indica ser bem baixo o número de crianças que fazem parte da força de trabalho.

Então, o guia nos levou até uma loja de tapetes, onde começou uma apresentação de tapetes marroquinos. Nos serviram o famoso whisky marroquino, que até então pensei que podia haver alcóol, mas não era nada mais que um chá. Foi uma experiência mágica, aqueles tapetes sendo exibidos, os caras sabem vender seu peixe bem. Os marroquinos tem uma aptidão enorme para ser negociantes. E falar que vai comprar algo e depois desistir para eles é uma ofensa grave, para eles essa coisa da palavra é levada à risca.

Encontramos com o guia, voltamos ao carro e vamos para Fèz, outra cidade imperial. Mais problema com a polícia, mas dessa vez não foi minha culpa. O guarda inventou uma infração para nos extorquir dinheiro. A multa começou com 400 dhs, passou p 200 dhs e foi baixando, até ele nos deixar de ir embora, claro depois de muito conversar sobre futebol.

Chegamos em Fèz de noite, paramos num supermercado e comemos em cima do carro. Rodamos a cidade atrás do albergue, não achamos e pedimos ajuda a um marroquino, que ligou pro hotel, perguntou onde era e fomos seguindo o carro dele até lá. Os marroquinos quase sempre foram muito simpáticos e prestativos, com algumas péssimas exceções, claro. Acabamos ficando na casa de uma família, um Riad. E finalmente compramos cerveja [uhu!], a primeira cerveja depois de dias, tomada na laje do Riad e super quente.

No outro dia fomos conhecer a medina, como em todas cidades. Mas essa tinha algo de especial, era enorme e impossível de não se perder, acho que passamos seis horas rodando por aquelas vielas estreitas, comendo doces sem parar e sempre dando voltas e retornando ao mesmo lugar. Lá finalmente comemos o famosos cuzcuz, numa loja de tapetes, nada mais marroquino do que isso. Cuzcuz para 6 pessoas num prato enorme. Muito bom.

Nos despedimos da cidade vendo o pôr do sol nas ruínas de Fez.

[em breve a continuação da nossa saga]

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3 comentários:

  1. Por acaso o quarto integrante da turma, que
    demorou pra comprar a passagem, foi Vini? HAHA

    muito bom ler a aventura de vocês...e tua narração
    é ótima, brecht! muito divertida :)


    e o que o futebol brasileiro não é capaz de
    fazer, ein? facilitando muito a vida dos
    viajantes que super se jogam. rs!

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  2. brecht!! to com teus euros e dois presentes que tua mae mandou!!!
    eu pretendo ir a berlin em breve, mas so em setembro... tu vem por hamburgo antes? ou conhece alguem que vem?
    O dinheiro eu vou depositar, mas apenas sexta ou proxima semana, quando eu criar a conta no banco...nao passa de proxima semana, ok?!

    beijosss

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  3. oba! nicole chegou! e ainda trouxe euros e presentes!

    jah tens numero na alemanha? me liga gatenha. hehe

    to te mandando um email agora.

    eve, preciso mesmo responder..? haha

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