16.5.09

can.nes



Festival de Cannes começou nessa quarta-feira. A programação tá imoral, novos filmes de Haneke, Tarantino, Park Chan Wook, Coppola, Almodovar, von Trier, Resnais... só monstrinho.

Pra mim o mais esperado é o novo filme de Haneke e na expectativa que ele leve a Palma de Ouro, já que quem preside o júri nesse ano é A Professora de Piano.

Alguns dos filmes desse ano:

Inglourious Basterds de Quentin Tarantino
Taking Woodstock d'Ang Lee
Les herbes folles, d'Alain Resnais
Soudain le vide de Gaspard Noé
Le Prophète de Jacques Audiard
Je suis parti de rien de Xavier Giannoli
Antichrist de Lars von Trier
Les Etreintes brisées de Pedro Almodovar
Looking for Eric de Ken Loach
Le Ruban blanc de Michael Haneke
Vincere de Marco Bellocchio
Fish Tank d'Andrea Arnold
The Time that remains d'Elia Suleiman
Visages de Tsai Ming-Liang
Vengeance, de Johnnie To, avec Johnny Halliday
Map of the Sounds of Tokyo d'Isabel Coixet
Chop Chop de Brillante Mendoza
Spring Fever de Lou Ye
Thirst de Park Chan-Wook
Bright Star de Jane Campion

Um bom blog pra acompanhar o festival é o do CinemaScópio.

http://www.cinemascopiocannes.blogspot.com

15.5.09

lalala lalalala



.


Vou escutar sua música inteira
Venha dançar você até o fim
A sonora madrugada
Voada distante do amanhecer.



Olá olá todos,

Tempos sem escrever aqui, é que me falta justo o tempo. Tanta coisa pra escrever e compartilhar, mas não dá mesmo pra tá sempre postando aqui, é foda. Mas então, vou contar mais ou menos o que se passou comigo nesses dias.

Começo da semana passada não andava bem, então fui ver um filme, solução quase sempre infalível para sair de "cabisbaixamentos", dito e feito, saí novo do filme. Fui ver Milk no Hackescher Hof, cinema bem pequeno no centro onde passam filmes menos comerciais. O ingresso custou 6,50 euros, acho que foi o ingresso mais caro que paguei na vida, mas tudo bem. Foi estranho ver Sean Penn fazendo papel gay, pra mim ele sempre foi tão macho, porque o filme que sempre me vem à cabeça com ele é "Sobre Meninos e Lobos", onde ele é bem machão. Me lembro sempre dele falando sobre a mulher dele, naquela frase, mais ou menos assim, "pra pegar aquela mulher era preciso ter colhões". UHU. Isso foi um aprendizado importante para minha vida. hehehe Agora me vem ele dando aquelas bichadas, num personagem gay, mas que é muito homem, arrisco até a dizer que muito macho mesmo, pela coragem que teve. O filme me passou um dos melhores sentimentos que um filme pode passar, o desejo de liberdade, liberdade incondicional, e que se foda o que fere esse princípio, lutemos contra. Vi o filme com legendas em alemão com aúdio em inglês, deu para entender quase tudo, mas saí da sessão "sequelado" pelas duas horas de línguas, que não o português se misturando na minha cabeça.

Ainda tentei pegar a sessão de Duplicity no cinema da Postdamer Platz, mas me atrasei resolvendo umas coisas. Depois fiquei sabendo que, com exceção das salas 3D onde os filmes passam dublados em alemão, todos os filmes são na versão original em inglês e sem legendas, só tendo legendas quando o filme é de outra língua que não o inglês. É incrível como isso aqui é normal para os alemães, o inglês não é nem a segunda língua, é a primeira também, junto com o alemão. Mas pra mim não dá pra entender inglês, assim tão perfeitamente, na verdade acho que sou muito dependente das legendas. No filme brasileiro que passou no festival por aqui no mês passado, as legendas eram em inglês e eu ficava lendo todas, mesmo com o aúdio THX excelente da sala de exibição.

Semana passada foi a semana de resolver meu problema de moradia, agora estou morando em bairro até chique de Berlin, vejam só. Morando em Charlottenburg, a passos do castelo e alguns outros de um lago enorme. O quarto é bem grande e tenho vizinhos do mundo todo no meu andar. Gente do Líbano, Camarões, Turquia, Bulgária, Argentina, Alemanha, e claro, Brasil. Incrível como todo canto aqui tem brasileiro. Mas não quero falar em português não, isso é péssimo porque assim não me forço tanto a falar em alemão. Mas vá lá, a menina do Brasil é muito gente boa.

Fiz a mudança na semana passada e me joguei pra Hamburgo, tava tendo a Hafenfest lá, festa do 820º aniversário do porto. Adoro festa de rua, muita gente, shows de graça, me sinto às vezes no carnaval, teve até escola de samba lá. Dessa vez pude conhecer melhor a cidade, da outra vez tinha passado só um dia e me embriagado quase todo o tempo. Agora não foi muito diferente, primeiros dias só fiz sair e beber, sem conhecer nada que turista conhece, só depois de três dias fui andar pela cidade e conhecer as coisas. O porto é uma coisa impresionante, enorme, com navios cargueiros passando a toda hora na beira da "praia". Já távamos quase dentro do rio, quando passa um cargueiro enorme, formando umas marolas, que se a gente não corresse ia molhar um bocado. Ainda teve rave de graça, que foi do caralho! Conheci muita gente nessa viagem e consegui rever vários amigos.

Passei a semana toda lendo Josué de Castro, é impossível pra quem é de Recife não se identificar quase que 100% com a narrativa de Homens e Caranguejos. O ciclo do caranguejo é bastante cruel, mas pela antropofagia presente no ciclo, consegue ter algo de belo, homens comendo caranguejos, caraguejos comendo homens e ambos se transformando numa coisa só, nessa espécie de mimetismo que acontece nos quintais dos prédios de classe média alta e ali bem na frente das palafitas do Recife.

Estou infinitamente ligado ao Recife, meu coração permanece lá, mas minha cabeça ganhou o mundo, que apesar da vastidão parece estar sem fronteiras. Cidadão do mundo, como diria Chico.

Uma semana pra chegar na África. Semana essa que será corrida, tenho que entregar um trabalho na sexta para a cadeira de Naturschutzökonomie, espero que dê pra falar dos manguezais, aí já coloco a poética de Josué num trabalho de economia. Yeah!

Acabo de chegar das aulas, minha cabeça parece querer explodir de tanto alemão. A cadeira de hoje sempre me dá um sono danado porque não consigo entender muita coisa, mas a aula do curso de alemão é a melhor, eu não paro de rir na aula, só tem gaiato! hahaha

Vou indo, vou indo... Fazer meu jantar (ou seria almoço?), comprei até molho com carne e vinho pra jantar, vai ser um verdadeiro banquete. As cervejas também já estão gelando, hoje já saio daqui no ponto, sem precisar gastar 3 euros em meio litro de cerveja no meio da rua. ;)

Abraços, beijos, sorrisos e carinhos. Tenham um ótimo final de semana.

3.5.09

1º de Maio




Todo 1º de maio acontece aqui em Berlin, junto com os protestos, uma grande festa com vários palcos, milhares de pessoas e muita bebida, a MyFest. Eu não sei se o ato vira uma grande festa, ou se a festa se torna um grande protesto. Andei por todas as ruas, todos os palcos, até achar, enfim de onde sairia a passeata. Havia muita gente na rua, vendo os shows, assim como na passeata, onde não conseguia nem ver o fim da multidão. Mas perguntei a uma menina que tava do meu lado se todo ano tinha tanta gente assim, ela disse, meio frustrada, que esse ano tinha menos gente. A cada carro de polícia, pedras e conflitos com a polícia. Foi muito tenso quando chegamos numa rua mais estreita e a polícia impedia a passagem, mas aqui carro de som não só serve pra encher o saco com palavras de ordem, carro de som é uma arma poderosa contra a polícia, aceleraram sem medo o caminhão e fácil, fácil abriram caminho. A partir daqui foi sempre tenso, sempre tendo que correr da polícia, mas tudo de certa forma tranquilo. Polícia daqui é um amor se for comparar com a Tropa de Choque de Recife, não vi uma bomba de efeito moral, nenhuma bala de borracha, gás de pimenta ou lacrimogênio. Vários shows acabaram mais cedo pois os conflitos com a polícia aconteciam muitas vezes na frente dos palcos. Teve uma banda espanhola de hardcore que havia parado o show por um tempo porque mais de 200 policiais se enfrentavam com a multidão que atirava garrafas, mas teve uma hora que eles cansaram de esperar e começaram a tocar com o conflito rolando, todo mundo foi ao delírio, parecia baile funk carioca, lado B, lado B, lado A, lado A. Mas a galera não resistiu por muito tempo e se dispersaram, com alguns sendo presos, mas não antes de colocarem outro grupo de policiais, que tentavam cercá-los, para correr a garrafadas, a cena mais bonita da noite. Todo palco que ia, acabava tendo que correr da polícia. Entre uma música e outra, correria e garrafas voando, até que os shows iam acabando porque não tinha mais condições. Assim fui procurando algum lugar tranquilo pra acabar a noite, um lugar sem polícia, tava difícil, a cada rua que ia me deparava com polícia aos montes. Depois de muito andar, achei um palco que tava tocando algo como reagge, mas não era reagge, algo inrotulável, lembrava Manu Chao, e lá não tinha um policial sequer, lá mesmo fiquei. Banda muito boa e bem conhecida por aqui, todos sabiam cantar as músicas, primeira banda alemã que me agrada, mas nem procurei saber o nome. Acabou o show da banda, comprei um vinho, sentei um pouco pra descansar, então começou a tocar uma DJ, que tava enlouquecida dançando no palco, começou com House, passou por Prodigy, e terminou com Rage Against the Machine, todo mundo, claro, eu incluso, enlouqueceu. Bati cabeça com todo mundo, fiz monte de amigos efêmeros de roda punk e faltou pouco pra eu nadar no chão. Terminou o show e eu tava gritando enlouquecido, “do caralho! Do caralho!” Então fui ver como estava a rua onde tava tendo os conflitos. Garrafas quebradas, polícia fechando as ruas, bombeiro apagando fogo, multidão havia dispersado e mais nenhum show rolando. Então, depois de 12 horas na rua, fui pra casa, só fui acordado na última estação por duas meninas. Endestation, Hermannstraße. Neukölln nochmal.

Como meu texto não dá conta jamais do que foi o primeiro de maio, vejam aí alguns videos.

http://www.youtube.com/watch?v=AYc7ssilafw&feature=related

1.5.09

Um dia qualquer.



Ontem fui dar uma volta de bicicleta pra clarear as idéias. Escrever se mostrou uma ótima forma de “terapia”, mas não dá conta nunca da minha energia. Então fui em direção ao Portão de Brandemburgo - milhares de turistas, pois hoje é feriado e tava um sol lindo, muitos carros também, trânsito caótico. Peguei a margem do Rio Spree, a fim de ir até onde desse pra ir, mas no centro não dava pra ir sempre na margem, então fui até a Alex, pra de lá pegar pro Treptow Park, peguei a Karl Marx Alle, mas acabei me perdendo, é incrível como as ruas somem do mapa às vezes. Volto pra Alex e vou até a Rathaus, de lá ficava mais fácil de chegar no Treptow. Quanto mais eu pensava, mais forte eu pedalava e mais longe queria chegar, deu a até a idéia doida de chegar em Dresden, já que tava indo na direção de lá mesmo, mas devaneios passaram e cheguei numa “praia” - aqui, fazem praias artificiais na beira dos rios. Fiquei lá vendo os barcos cheios de turistas passando, depois fui dar uma volta pela praia, e fiquei trocando idéia com um cara que queria me vender "produtos naturais". Aqui os traficantes são muito simpáticos e educados, chegam sempre perguntando como você tá, de onde vem, e eu, como converso com qualquer pessoa que me fale um “oi” na rua, já puxo assunto também, alguns, depois de tanta conversa esquecem até de me oferecer os “produtos”. Quando lembram, dizem, você precisa de maconha? Eu, não, muito obrigado, sabe onde vende cerveja barata por aqui? É incrível como eles nunca sabem. Saindo da praia dou de cara com o Muro de Berlin, “oxe, já to aqui!”, pensei. Aí fui conferir o processo de restauração pelo qual anda passando o muro, parei pra falar com um artista que tava pintando o muro, dos lados, o muro em branco. Perguntei, ansioso pela resposta, se a pintura que ele estava fazendo era nova, da cabeça dele, ou se era de acordo com a pintura original do muro, ele pegou uma foto daquela pintura do muro bem antiga e disse que era de acordo com o original e que iria fazer de tudo pra ficar o mais parecido possível. Abri um sorriso e disse, Gott sei Dank! Ele riu, me despedi e fui seguir minha jornada por Berlin. Mais uns 5 km e cheguei no Treptow Park. Almocei uma Currywurst com cerveja, o que me deu um sono absurdo. Fui seguindo a margem do Spree pelo parque, sempre pela terra, cheguei até onde dava pra ir e inventei de pegar uma trilha pela floresta, mato fechado, mas trilha tranquila e aprendi com Seu Edvan a ter uma noção de orientação nas trilhas pesadas que a gente fazia. Achei a ponte que dava pra uma ilha, muita gente deitada com pouca roupa, quase delirando com o sol. Voltei pra margem do Spree, deitei e dormi por quase uma hora, acordei a fim de entrar no Spree, mas a água muito gelada, mesmo com o sol que fazia. Na volta, achei um Kneipe na entrada do parque que vendia cerveja de barril (Bier vom Fass) por 1,40 €, meio litro, pena só ter mais 2 euros, senão passava o dia lá bebendo. Cheguei em casa e fui na casa de uns amigos pra ajudar na limpeza do jardim, mas cheguei lá, já tava todo mundo indo embora, véspera de feriado, vamo descansar, porque amanhã promete, disseram. Voltei pra casa, peguei uma cerveja e dormi com ela na mão na varanda. Só acordei hoje, sexta-feira, 1º de maio, 3 semanas e 1 dia, para eu encontrar com a galera em Madrid e ir pro Marrocos. Casablanca pra Marrakesh atravessando o deserto. Mas hoje, de fato promete, são esperados vários protestos, e claro irei dá uma olhada nos carros pegando fogo no meio da rua, depois também são esperados vários churrascos, então hoje é dia de correr perigo, e é hoje que eu só chego amanhã.