1.2.10

Kotti

Kottbusser Tor, Kreuzberg, Berlin.

Lugar da cidade onde tudo acontece. Ruas cheias de gente, gentes multicoloridas, gente do mundo todo, torre de Babel. Fui ontem por lá, atrás de um centro cultural chamado New Yorcker, onde é na verdade a ocupacao em funcionamento mais antiga de Berlim. A origem do nome vem de outra ocupacao, que ficava na Yorckstraße, mas foi tomada pela polícia. Entao fundaram a Nova Yorcker, num prédio enorme na Mariannenplatz, fazendo uma brincadeira com NYC. Na quinta volto por lá pra trocar uma idéia com os moradores. Ainda nao sei como funciona uma ocupacao em Berlim.
Pelas ruas em torno da Kotti, dois garotos negros tentam arrombar ou roubar algo dos carros estacionados, quando me avistam, andam à passos apressados. Na estacao, dezenas de traficantes, viciados, mendigos. Os traficantes têm de tudo. Os viciados nao têm mais nada. E os mendigos sao até simpáticos. No piso de cima, segurancas com seus pastores alemaes.
Por lá existem vários bares, restaurantes, boates e vários dönner laden (lojas). Lugar das nossas primeiras rondas por Berlim atrás de algo realmente Berlim. Sujo, alternativo, louco e com cerveja barata. Isso acabou se resumindo muitas vezes em sentar na calcada com uma cerveja na mao e trocar algumas palavras com punks que passavam com seus cachorroes.
Ontem, algo novo. Hotel, bar de cerveja nao muito barata, mas com música ao vivo. Jazz e bossa nova foi o que ouvimos. Um dos melhores lugares de Berlim. Talvez o melhor num domingo à noite. Cena surreal: Os músicos chegavam aos montes com suas guitarras embaixo do braco, tentando uma horinha pra tocar.
Na volta pra casa, linha U1, linha essa que parece sair de algum conto de realismo fantástico, gentes loucas, sempre. Um homem comeca a pedir dinheiro pra todos do meu vagao, senhoras e senhores, comeca. Fala por uns 2 minutos. Dou 50 centavos a ele, que senta e comeca a falar. O mundo está perdido. O sistema nao funciona mais. Até a seguridade social da Alemanha, tida como quase perfeita, está perdida. Diz, inclusive, ter perdido a casa onde morava, uma semana antes do Natal. Cheguei na minha estacao, pena ter que ir, queria conversar mais com o homem. No vagao, eu estava só.

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