29.3.10

Dark Room

O que é aquilo ali? Nao sei, vamos ver.


Pra entrar é preciso se abaixar pra nao bater a cabeca no teto. Na parede uma grade, do que antes fora uma fábrica da DDR, treme com a música eletrônica, dando a impressao de alta voltagem e perigo eminente e iminente. Nao se vê nada lá dentro, a nao ser quando alguma luz da pista de danca invande o lugar, descobrindo penumbras de homens que se masturbam e fazem sexo com outros homens. Andando mais pra dentro, trombando com casais e homens à procura de sexo, a música vai ficando distorcida, com eco. Vemos correntes, cama sado-maso, um trio fazendo sexo. É um flerte com o surreal, com o submundo. Vide o ínicio de Irrerverssível, o Rectrum, e troque a luz vermelha por alguns flashes momentâneos de luz azul e branca.





Berghain / PanoramaBar, Berlin.

20.3.10

Sábado

É manhã, os ônibus de dois andares não param de passar cheios de turistas, que também nos observam através das enormes janelas da biblioteca. Dia chuvoso, mas de uma chuva fina que quase não molha. Na cabeça, ficou a música clássica que alguém escutava no corredor bem cedo. Na mesa, papéis e mais papéis, muitos com letras vermelhas, correções de um amigo dos textos que eu havia escrito. E que desconfortável é escrever numa língua que não se domina. Mas é, assim se aprende. Na minha frente, mulheres lindas, chineses com suas tecnologias e alguns tipos estranhos que vivem na biblioteca. 

19.3.10

Ônibus M45

Mais uma vez voltando de ônibus, pego-o no terminal, turco pede para o motorista desligar o aquecedor, está calor, chefe - fala, e tem razão, noite quente de início de primavera, motorista resmunga algo e faz o que o homem pede. Vou observando melhor o lugar onde já vivo há quase um ano, tendo algumas idéias pra fotos na semana que vem. Na verdade, preciso explorar melhor o bairro onde moro, Charlottenburg. Sempre o vi (e ainda vejo) com certo preconceito, por ser um bairro de pessoas mais adinheiradas, ruas muito limpas, quase não há grafites, nem sinal de ocupações, nem sinal de protestos e carros pegando fogo. Não se parece muito com Berlim. Bairro burguês, que por ser burguês não tem muita graça. Por isso sempre pego o metrô e atravesso a cidade, Kreuzberg, Friedrichhain, Neukölln, Prenzlauer Berg. Mas quando se observa melhor e com outros olhos, sem preconceitos, as coisas se mostram diferentes. Nesses dias, descobri do ônibus vários sebos, lojas de usados, cafés, bares e lanchonetes que parecem ser interessantes. A loja de sorvete italiano do outro lado da rua voltou hoje a funcionar e eu me dei conta que nunca fui lá. É certo que não há mesmo muita vida nas ruas, tudo muito tranquilo, mas há sim muito o que se ver.

18.3.10

Ônibus

Sempre é mais interessante voltar da faculdade de ônibus. É possível ver as ruas, prédios, pessoas. No metrô não se vê quase nada, se bem que com alguma sorte sentam pessoas interessantes na sua frente. Mas na linha U2 sentido Ruhleben, geralmente não há muito o que se ver, e depois das 22:30, nesse sentido, o vagão geralmente está meio vazio. Linha U1 sentido outro planeta, sim é algo bem interessante.

Mas voltando. Do segundo andar do ônibus, com a cabeça cheia, sentimento não muito agradável de um dia que não rendeu tanto quanto deveria, pensando um monte de besteira, sabendo que hoje ninguém me espera, sozinho. Na mão e no braço direito vou escrevendo tudo que me vem à cabeça. Pelo vidro vejo as pessoas distantes na rua. No vidro vejo as pessoas dentro do ônibus refletidas, um pouco borradas, distorcidas. Pessoas que quebram a barreira do vidro e sentam-se ao meu lado. Todavia, continuo observando-as pelo vidro.  Parada, desce.

A noite

A noite cai, pego minha xícara de café, sento na calçada. Vendo as formas geométricas das construções, as pessoas andam entre as coisas e se misturam às luzes cintilantes. Conversas em diferentes idiomas e gargalhadas aguçam os ouvidos. Há cheiros e um pouco de fumaça no ar. Tudo isso se mistura e dá vida à cidade. É preciso apenas uma brisa suave, que toca o rosto, para deixar de ser observador e passar a fazer parte de tudo isso.

Primavera

As pessoas todas na rua, almoçando, estiradas na grama, tomando sorvete, sorrindo. O sol queima de leve o rosto, recarregando as energias. Os lugares vazios nos interiores, não há mais mesas para sentar do lado de fora. O dia que começa a ficar mais comprido. As cores que começam tímidas a aparecer e logo explodem, como os beijos, beijos de primavera. Ah, a primavera.

3.3.10

Derrière des forêts cosmopolites

Hoje faz um ano que estou em Berlim. Um ano que passou na velocidade de uma semana, mas quando páro para lembrar de tudo, são como lembranças de 10 anos. Eu me sinto como em casa. E aqui na verdade passou a ser minha cidade, minha segunda cidade. E pensar que escolhi isso, de certa forma, numa sala de espera de um consultório. Conheci um jornalista da BBC que tava conversando com um senhor do lado sobre viagens pelo mundo. Os dois conversavam sobre as cidades que eles mais se identificavam sem ser a qual eles haviam nascido. O jornalista disse ser Londres a cidade da vida dele, pois havia morado lá por muito tempo e construído toda a carreira dele por lá. O senhor disse ser Veneza, viagem com a mulher, lembranças de dias felizes e ensolarados. E eu não pude dizer nada, só havia morado em Recife. Mas disse pra mim mesmo, será Berlim. E por quê...?

Dia para reflexão? Que nada. Tantas despedidas hoje... vai ser difícil. Mas me alegra saber que amanhã encontro um grande amigo em Estocolmo. É muito bom saber que nem todo adeus é para sempre.

Bärlein, 03 de março de 2010.