8.10.10

RAGE AGAINST THE MACHINE

06th June 2010. Finsbury Park, London. 

Um domingo em Londres, chego 10h da manhã no Finsbury Park, lugar onde o show do Rage Agaisnt the Machine começaria lá pras 21h. Chego lá ainda meio desconfiado, pensando talvez que tudo fosse uma pegadinha, como era difícil acreditar naquilo tudo. Vou chegando no parque e já vejo de longe as duas estrelas enormes, cada uma de um lado do palco e mais na frente uma fila de umas 100 pessoas, umas que esperam pra pegar o ingresso, assim como eu, e outras que já estão lá com ingresso, mas querem garantir seus lugares na grade. Assim passo a acreditar que aquilo está pra acontecer.

Vale contar que não havia recebido meu ingresso pelos correios como haviam me prometido, e só no dia de partir pra Londres que me avisaram que eu deveria pegar meu ticket no lugar do show. Uma série de informações desencontradas, que deixou todo mundo que não tinha ingresso louco durante a semana do show.

Depois de pouco mais de uma hora na fila, consigo pegar meu ingresso. Guardei como um tesouro dentro do passaporte e fui fazer uma feira pra antes do show.
A abertura dos portões era prevista pras 14hrs. Com meia horinha de atraso, os seguranças avisam com um megafone que vão abrir os portões, falam também pra ninguém correr, fazer tudo com muita calma. Movimentação, todo mundo se preparando, amarrando firmes os sapatos, deixando firme a mochila nas costas. Portões abertos, e claro, a calma durou menos de 10 segundos e no final todo mundo começou a correr, uns caindo em cima dos outros, todo se ajudando a levantar, depois caindo de novo, e eu não conseguia parar de rir.

Já lá dentro, fila enorme se forma pra comprar as camisetas da banda. Battle of Britain, Cowell: 0 Rage: 1, Victory Celebration...

E o clima era de festa mesmo, de celebrar um fato histórico, a vitória de pessoas que se juntaram e conseguiram vencer a grande mídia. E muito, muito mais que isso.

No Reino Unido é muito tradicional o hit de Natal, ou seja, a música mais vendida do ano através de internet. Cada download custa apenas 1£ e parece que todo por lá faz questão de comprar para colocar seu favorito no primeiro lugar. Uma coisa meio besta, fútil, mas que eles levam à sério. Nos últimos cincos anos, o single mais vendido na Inglaterra era o vencedor de um programa de calouros chamado X Factor. Era de se esperar que isso continuasse a acontecer e que Joe McElderry, o vencedor do X Factor 2009, fosse o n°1 de Natal.

Mas então um casal de ingleses, Jon e Tracy Morter, resolveram fazer um campanha apenas através de Twitter e Facebook para que Killing in the Name fosse o single mais vendido no Natal de 2009. Eles já haviam feito o mesmo em 2008, mas não deu certo. (Não me lembro qual foi a música escolhida pra a campanha de 2008). A campanha de 2009 deu muito certo, e chamou a atenção de toda a Inglaterra. Isso resultou na apresentação da banda na BBC, versão que o canal de televisão teve que censurar ao vivo, pois Zack, claro, não deixou de falar a parte mais importante no final da música.

Killing in the Name casou perfeitamente com o sentimento que as pessoas tinham de não quererem mais fazer o que uma grande mídia falava, de não fazer o que a televisão diz implicitamente, e muitas vezes explicitamente, o que você deve fazer.

No dia 20 de dezembro saiu o resultado, e Killing in the Name foi o single mais vendido de 2009 no Reino Unido. Música essa que agora de uma vez por todas se consolida como uma das mais importantes da história. Lançada em 1992 com o surgimento da banda, completamente revolucionária, anarquista e com o refrão certeiro: Fuck you, I won't do what you tell me.

Isso tudo mostra o qual importante é a internet como forma de organização. Mostra que nós, podemos sim nos organizar pra fazer alguma coisa e mudar algo que não nos agrade.

Tudo isso resultou na declaração dos integrantes do Rage que iriam fazer um show em Londres para agradecer por tudo. Show que foi de graça, com ingressos sorteados através de internet, os quais em pouco menos de 3 horas de esgotaram. Nesse show, eu estive presente.

Show que ainda teve na abertura Gallows, Roots Manuva e Gogol Bordello. Não queria nem me mexer nesses shows pra não gastar energia, mas não teve jeito. Os shows de Gallows e Gogol Bordello foram incríveis, de muita energia e pancadaria do começo ao fim. Nos intervalos colocaram uns DJs péssimos, até os caras do Gogol que tavam se preparando pra entrar ficaram olhando com cara de What a fuck? DJs expulsos a garrafadas, copos voadores e restos de comida.

Depois do show de Gogol Bordello, a multidão começa a se aglomerar, 40 mil pessoas, tirando as que pularam o muro. Cada espaço é sagrado, ninguém vai me colocar pra trás, todo mundo tentando meio que demarcar território, empurrões, cotoveladas, sorrisos ansiosos, pessoas enlouquecidas, últimos goles d'água, os copos ainda passam de mão em mão, tira uma foto minha aí brother, caralho, vai começar! Ainda não, a cada música que termina, colocada pra acalmar o público, a expectativa aumenta.

Então começa nos telões uma vinheta com uma caricatura do cara do X Factor, Cowell, falando, que triste ser derrotado e anuncia Rage Against the Machine. Uma sirene de emergência começa a tocar e a bandeira da banda com a estrela vermelha começa a subir bem devagar. As pessoas já começam a pular, a banda entra unida e a frase mais aguardada da vida de muita de gente é dita:

Good evening, we are Rage Against the Machine from Los Angeles, California!

Então começa Testify. Sim, aquilo estava mesmo acontecendo!



A partir de então não tenho mais propriedade pra falar de nada com uma sequência lógica de fatos. O set list ajuda a explicar:

Testify
Bombtrack
People Of The Sun
Know Your Enemy
Bulls On Parade
Township Rebellion
Bullet In The Head
White Riot (The Clash cover)
Guerrilla Radio
Sleep Now In The Fire
Freedom


Ou seja, sem tempo pra respirar, pra pensar em algo. Depois de Freedom, música onde sim, como prometido, estava pior que o gordinho do final do clipe, palco se apaga, saem todos. Entra outra vinheta mostrando os fatos mais importantes da campanha, reportagens de jornais, afirmações de que, Rage ganhar, não, isso não é possível e no final:


X-Factor: 450,838
RAGE: 502,672


YOU MADE HISTORY





Foi muito foda participar disso tudo. Rage é de longe a banda que mais admiro e mais escutei na minha vida. É a melhor banda pra mim dos vivos, dos mortos, e creio dos que ainda virão por aí. Foi sem sombra de dúvida o melhor show da minha vida.


Vale a pena ver o video da BBC do dia show. Passa muito toda a energia daquele dia.


[BBC] Rage Against the Machine perform free gig for fans


Durante o show Zack disse: We can change the world!

Pode até não ser verdade, mas foi muito bom escutar isso, e a sensação que tínhamos naquele domingo era mesmo essa.




Hoje, 08 de outubro de 2010, um dia antes do show no SWU. Primeiro show do Rage na América do Sul, o dia de amanhã será histórico assim como o dia 06 de junho de 2010. Pena não estar lá pra ver isso ao vivo. Então, um ótimo show pra todos que vão!

E o que virá depois? Tenho a sensação que depois de passar pela América do Sul, eles terão energia pra um novo CD.



It has to start somewhere 
It has to start sometime
What better place than here, 
what better time than now?

All hell can't stop us now!

3 comentários:

  1. porra Brecht. Respect. parece que eu fui no show depois de ler isso. fantastico! quero mais! grande abraco!!!

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  2. Muito bom o texto galego, e eu estarei lá no primeiro show deles na América Latina!!!

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  3. valeu pelos comentários!

    po, estuardo, então quer dizer que vou ter que ir em outro show do Rage? que chato, broder. haha

    já disse umas mil vezes, mas nunca é demais repetir: ótimo show dedão! (e não faça fotos demais) hehe

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