30.5.10

Contagem regressiva

Falta exatamente uma semana para o show de Rage Against the Machine em Londres. Pessoas na europa toda se preparam para o show, umas dao carona a outras, hospedagem na brodagem, muita expectativa. 40 mil pessoas irao lotar o Finsbury Park no dia 06 de junho a partir das 14 horas.
No dia 03 eles se apresentam aqui na Alemanha no Rock am Ring, sera o primeiro show da pequena turne europeia.

Ich kann kaum erwarten!

28.5.10

Bicicleta

Mulheres arrumadas, de saia, meia-calça e sapato alto. Assim, lindas, indo para o trabalho pela manhã. Sinal fechou, hora de retocar a maquilagem. Não ouse andar na faixa vermelha que elas podem lhe atropelar, mulheres assassinas. 

27.5.10

Bomba

Confiram a notícia de hoje em Berlim. Uma bomba!




Agencia EFE
 
Uma bomba da Segunda Guerra Mundial foi encontrada na noite desta quarta-feira (26) na região de Berlim, e obrigou a retirada de cerca de nove mil pessoas que estavam em imóveis próximos.
O artefato, que pesa aproximadamente 500 quilos, é de fabricação americana, e foi encontrado por funcionários de obras de canalização no distrito de Zehlendorf.
Durante mais de seis horas, as forças de segurança esvaziaram todos os edifícios em um raio de 500 metros. A maior parte dos moradores se abrigou em casas de familiares e amigos, mas cerca de mil deles foram atendidos em uma estrutura provisória.
Por ano, a Polícia de Berlim recolhe e desativa entre 25 e 40 toneladas de bombas, granadas e outros tipos de munição e armamento da Segunda Guerra que ficaram enterrados no subsolo da cidade.
O Senado de Berlim acredita que o subsolo da capital alemã tem ainda cerca de três mil bombas aéreas de 250 quilos cada.


Bomba da Segunda Guerra encontrada em Berlim


25.5.10

Dorf

É incrível como Berlim pode parecer uma cidade de interior, oferecendo um sossego que é difícil de imaginar que se possa ter quando se mora numa cidade grande. Ontem foi um dia se simplesmente andar em busca de nada. Ruas vazias, cobertas de folhas e flores que haviam acabado de cair, cheiro de terra molhada, parques, pracas, floresta, Grünewald, montanha, Teufelsberg, pôr-do-sol com fábricas e nuvens brancas ao fundo. A noite cai, a cidade se ilumina, logo à frente a Funkturm, a torre de rádio, ao fundo a Fernsehturm, e toda a cidade brilhando.

Studentenwohnheim

O lugar onde vivo.

Queria deixar pra escrever esse texto quando já estivesse no Brasil, poderia escrever um texto mais pessoal, com a "proteção" de não estar mais aqui. Mas não, quero escrever o texto no presente, e não no passado.

A procura

Vim pra Berlim quase na roubada, sem saber direito o que ia se passar. O plano era conseguir de alguma forma passar um ano. Mas só tinha dinheiro pra 6 apertadíssimos meses, sem direito a fazer viagens e ainda assim na dúvida se o que eu tinha juntado no Brasil seria suficiente. Também por isso, no começo, fui morar com minha tia, que já mora a mais de 20 anos em Berlim. Mas lá não podia ficar muito tempo, e também, claro, precisava do meu lugar. Com um mês, as coisas se resolveram e pude respirar um pouco aliviado, conseguiria passar um ano em Berlim. Mas até então, nada de apartamento, todos os Wohnheim's (residência de estudantes) estavam lotados. Só achava vaga no extremo leste da cidade, muito longe da TU-Berlin e de acesso meio complicado. Minhas idas ao leste Berlim atrás de quarto eram sempre cômicas. Não houve uma vez que eu não tenha me perdido. Uma vez fui atrás de um Wohnheim numa rua de nome tal, a qual não foi difícil de achar. O problema é que a rua, depois de um tempo passou a virar à esquerda e à direita, virou um enorme quarteirão e, inclusive fui parar num cruzamento onde a mesma rua de cruzava. Quase um conto Kafkiano. Também procurei vagas em WG's (Wohnungsgemeinschaft), apartamentos que a galera divide entre si. Mas com um orçamento de no máximo 200 Euros pra pagar aluguel com todos os custos extras, não estava achado muita coisa que prestasse. Fui parar em cada lugar... Achei um quarto em Neukölln, numa casa com 5 meninas, por 170  euros. Perfeito, não? Claro, se o quarto não fosse da largura de um corredor. Também fui parar em Wedding, onde tinha um quarto por 200 euros. Sala era legal, tudo grafitado, parecia uma ocupação, os moradores também pareciam ser gente boa. Mas o quarto era sem móveis e ainda tinha os custos extras por fora. Também não deu.

Enfim achei o quarto na Danckelmannstrasse, perto da TU, 206 euros, ainda viável. Falei que sim, reserva aí que vou sacar o dinheiro. Não posso reservar e tamos fechando agora. Ok, volto amanhã. Amanhã é sexta, meu jovem, estará fechado. Ah sim, volto segunda. Na segunda tive que resolver umas coisas do visto, e perdi a hora. Na terça, enfim, fui lá, com toda a documentação e dinheiro. Então Herr Braun me fala que o quarto já foi alugado. Como? Sim, acabei de alugá-lo. Então, volto eu com a minha procura. Eu já imaginando me mudando no primeiro de maio, levando minha mala entre carros pegando fogo, pedras e garrafas pelo chão. Mas não dessa vez. Então achei um quarto perto de Ostkreuz por dois meses. Ótimo. Decidi ir de novo falar com o Herr Braun pra ver se ele já teria algo daqui a dois meses. Ele fala que não, que tem algo pra agora. O cara que tinha alugado o quarto, havia desistido. Fui correndo em casa pegar tudo necessário e no mesmo dia peguei a chave.

O quarto

Nem tinha olhado o quarto antes, a não ser o quarto de um amigo que morava aqui. Não esperando lá grande coisa, o quarto podia ser diferente do meu amigo. Mas quando entrei, me surpreendi, quarto enorme. Com uma pia e toda a mobília básica. No outro dia fiz a mudança, ou seja uma mala e alguns livros numa caixa.

Desde então, já passou muita gente pelo quarto. Nove pessoas, além de mim, foi o recorde de quantidade de pessoas que dormiram aqui. Algumas festas, conversas pela madrugada, quantidades industrias de vinho e cerveja já foram bebidas aqui, violão, Brasil, o mundo. Noites sem dormir, alguns dias sem fazer nada. Esse quarto carrega uma energia forte, por vezes talvez carregada. No começo de maio, fez um ano que estou aqui, e devia sim, fazer uma festa. Vai ser difícil deixar esse quarto, afinal é o meu quarto. Depois vem alguma outra pessoa, estudante, sei lá de onde e vai habitar o meu lugar. É foda. Mas sim, acho que terá que conviver com essa energia por um bom tempo. Estou bolando um jeito de deixar minha marca por aqui, a qual ninguém possa tirar. Pensei até em deixar a caução pro Studentwerk e fazer uma arte aqui. Mas não, preciso da caução.

Vida coletiva

Dividir cozinha com mais 11 pessoas pode parecer impossível e um grande problema, mas é uma das melhores partes de se viver num Wohnheim. Dá pra aprender muita coisa quando se tem 10 nacionalidades diferentes se trombando todo dia na cozinha. Conversas absurdas, choques culturais, religião. O problema é dividir o banheiro. Acho meio constrangedor essa coisa de privada coletiva. É como um banheiro público, só que são seus vizinhos. Mas também dá pra levar a situacao numa boa.

Quase não se faz nada sozinho, café da manhã, almoço, jantar, tomar banho conversando, passar o dia sem fazer nada, assistir um filme no bar lá embaixo, pra tudo se tem (quase sempre) ótimas companhias.

Quem manda é gente!

Toda a organização é feita por nós, algumas pessoas têm cargos na organização da coisa, mas todos podem teoreticamente participar das decisões, mas é, isso nem sempre funciona muito bem. A limpeza também é feita por nós, eu sou o responsável pelo 2° andar, corredor vermelho. Coisa que parece funcionar bem melhor que nos outros Wohnheims, onde são contratadas pessoas para fazer esse serviço, aqui é relativamente bem limpo.

Cheiros

Cheiro de maconha e sexo, é claro, mas em pequenas doses, o que predomina mesmo é o cheiro de comida asiática.

Kneipe

O bar lá embaixo oferece festinhas caretas uma vez por semana, mas em dias que não se está lá muito a fim da sair de casa pode ser bem divertido. Lá também rola uma espécie de cineclube. Temos um novo projetor, inclusive!



Vou sentir muita falta desse lugar. Muita falta de chegar em casa às duas da manhã e encontrar gente bebendo na cozinha, de acordar domingo às 3 da tarde e encontrar um ou outro que chega também ressacado para tomar café da manhã, de sentar na calçada na frente do prédio e passar a noite e madrugada bebendo sem pressa pra nada, das conversas, das pessoas, dos jantares e almocos coletivos, das guerras ideológicas grudadas na parede do elevador, dos cheiros (que nao os de comida asiática), dos bilhetes grudados com mensagens "educativas" por todo o prédio, sobretudo no banheiro,  de passar mais de uma hora tomando café da manha e depois ainda voltar pra cama, dos sorrisos, das situacoes, dos barulhos.



Texto ainda precisa ser complementado.

22.5.10

Ignácio

Esse cara é realmente foda. Estou relendo O Verde Violentou o Muro. Livro lindo, escrito por um cara que realmente viveu essa cidade, toda essa loucura, insanidade e sossego. Como voltei a ler o livro, voltarei a escrever. Uma coisa está intimamente ligada a outra. E nessa minha releitura, me deparo com partes realmente fantásticas. Cito uma delas agora:

[...]
"Lugares sempre me interessaram, preciso deles, tenho os meus, particulares, secretos. A casa de Duras, junto a um bosque. "Cada vez que estou aqui tenho vontade de filmar. Isto pode acontecer, lugares me dão vontade de filmar." Transponho: há lugares onde tenho vontade de escrever. E esta foi minha identificação com Berlim. Uma química entre luz-árvores-ruas largas-sol-silêncio provincial-possibilidade de isolamento-participação total: pronto, a cabeça transformada, o clima propício. Escrever, andar, ler, não fazer nada: é Berlim. Reencontro Duras: "Se eu fosse suficientemente forte para não fazer coisa alguma, não faria. Justamente por não possuir esta força de não fazer nada é que faço filmes. Ainda: "O que de mais importante já me aconteceu foi escrever. O que me espanta é que nem todo mundo escreva. Tenho uma admiração secreta pelas pessoas que não escrevem, e também, bem entendido, pelos que não fazem filmes.""


Transponho isso também e coloco tudo em relação a fotografia. Nunca vi cidade tão fotogênica como Berlim. Ela adora ser fotografada, de vários ângulos. Se despe e toda nua se dá por inteira ao homem atrás da câmera. 

10.5.10

9.5.10

Tempelhof


Tempelhof für Alle! - Berlin 08.05.2010
Upload feito originalmente por PM_C
Da série textos que não podem deixar de ser escritos.

Sábado, 08 de maio. Abertura do maior parque de Berlim, onde fora o Aeroporto Tempelhof. Capítulo importante na recente história da cidade.

Desde 2008 fechado, o Tempelhof é tema constante em Berlim. Depois de várias manifestações para que o espaço pudesse ser utilizado pelos moradores como parque, o projeto foi aprovado. Mas não agradou muito, o parque é todo cercado, tem segurança particular e horário de funcionamento. Solução meio estranha, ainda mais por se tratar de Berlim, realmente não combina em nada com a cidade. Portões e muros parecem incomodar muito mais por aqui, de maneira que só um berlinense possa explicar.

Eu não sei quais são as razões de se fazer um parque dessa maneira, mas parece ter haver com os planos futuros de construções "sustentáveis". Especulação imobiliária tinha que dá as caras na história.

Por isso, centenas de pessoas foram reinvidicar um parque aberto, ou seja, um Volkspark. Ocuparam o espaço do parque e se recusaram a deixar o local na hora do fechamento. Não fiquei pra ver como tudo isso terminou, mas a manifestação não resistiu por muito tempo, até agora sabe-se de 7 pessoas presas.

O Tempelhof foi por muito tempo o maior aeroporto do mundo, o projeto de expansão é do tempo nazista. É uma parte importantíssima da história de cidade, a ponte aérea de Berlim, onde aviões americanos despejaram toneladas de alimentos e meios de subsistência no fim da Segunda Guerra Mundial.

Foto: PM_Cheung

Wiki: http://en.wikipedia.org/wiki/Berlin_Tempelhof_Airport

Chamado para o ato: http://tempelhof.blogsport.de/images/Aufrufenglisch.pdf

6.5.10

1. Mai


Kotti
Upload feito originalmente por brecht [Albrecht Mariz]
Tem muitos textos que quero escrever, mas vou deixando pra depois e acabam ficando sem sentido, perdidos no tempo. Queria muito ter escrito um texto sobre a Berlinale e sobre o InterfilmBerlin, por exemplo, mas acho que agora já é tarde demais. O primeiro de maio, nao. Esse dia nao pode passar em branco aqui no blog.

Um sábado meio nublado, Kottbusser Tor, Berlim, todos querem estar lá, a maioria pela festa, a MyFest. Festa de rua, multicolorida, as pessoas mais loucas, vários shows acontecendo ao mesmo tempo, DJs tocando na rua, clima de carnaval. Paralelo a isso, a partir das 18 horas, a manifestacao, BlackBlock, Antifa, anarcos, e claro, muita polícia. Esse ano nao acompanhei do comeco o protesto, tava esperando a coisa ficar mais violenta, com fogo, bombas e garrafas para fazer algumas fotos, mas esse ano a coisa foi bem mais tranquila. Só pra ter uma ideia, o número de policiais feridos caiu, do ano passado pra cá, de 497 para 97. (Se bem que isso pode nao dizer nada.) Mas o que se viu foi realmente bem menos fogo, bem menos garrafas e pedras voando. O número do contigente de policiais foi aumentado, foi proibida a venda de cerveja em garrafa, o famoso palco que ficava direto na estacao foi removido e a polícia bloqueiou as ruas chaves dos confrotos, ninguém passava livremente de um lado pro outro da Kotti. Isso tudo impediu que as coisas se tornassem incontroláveis como no ano passado. Uma coisa boa foi o fato de a manifestacao nao passar mais pela MyFest, nao precisando correr de polícia e desviar de garrafas voadoras enquanto se escutava Bob Marley e nem precisando entrar em roda punk com polícia no meio.

Achei a mudanca positiva, a MyFest deixou de ser tensa como fora. Mas se bem que, aquele ambiente anárquico e as cenas que eu vi no ano passado fizeram falta. Só podiam liberar o Spätis de venderem cerveja em lata, porque foi dificil achar cerveja por menos que 2,50.

Ainda fui atrás de confrontos, encontrei pouca coisa. Alguns latoes de lixo pegando fogo, policia apagando, garrafas voando, todo mundo correndo prum lado, depois correndo pro outro, estamos cercados! Muita gente sendo presa, papo cabeca com a polícia, mas eu só quero ir pra casa, deixe eu passar pra Kotti, nao tenho direito de ir e vir? Sim, claro, vá até o final dessa rua, pegue à esquerda, depois de novo à esquerda e ande até o fim da rua. Aqui voce nao passa. Na ja... Tudo muito disperso, cadê a Antifa, cadê o BlackBlock?

Como já era noite foi dificil fazer boas fotos, ainda com chuva fina, manifestacao completamente dispersa, difícil. Mas ainda fiquei lá correndo de um lado pro outro, tentando fazer algo que prestasse, sem sucesso. É muita estranha (e boa) a sensacao de estar no meio de um confronto. Só se pensa, que porra eu to fazendo aqui? Mas é quase impossível deixar o lugar.

Um dos melhores dias em Berlim.

4.5.10

Rápidos pensamentos

Como queria escrever mais vezes por aqui, tem tanta coisa pra falar. Muitas vezes, sim, besteira, mas que, ok, faz parte. Quando se tem que estudar e/ou trabalhar entao, que dá um vontade enorme de escrever, é minha fuga por alguns minutos. E agora, que estou nessa situacao, escrevo algo curto, sem falar muito aqui de tudo que eu queria falar. 

O blog terá que ser atualizado do Brasil, me dei conta que nao conseguirei escrever um ano e meio de tantas experiencias em apenas um ano e meio. Preciso de bem mais tempo pra escrever sobre tudo isso aqui. Podia, sim, parar mais vezes pra escrever, mas nao, agora é primavera, é maio, pouca roupa, nao resisto a isso tudo. Sempre esse enorme trade-off, e como os trade-offs aqui sao enormes. Mas como será difícil escrever sobre essas experiencias no futuro, escrevendo em pretérito. Na verdade, nao sei se vou conseguir, todo mundo me fala da depressao pós-Berlim, acho que sofrerei dela. Deixar essa cidade nao deve ser nada fácil. Jeito que tem é arrumar maneiras de voltar. E sim, irei voltar. Vou deixar minha bicicleta por aqui, poderei dizer que sim, tenho uma posse em Berlim. As pessoas se moverao nas suas incansáveis buscas, algumas ficarao, e eu sim, repito, voltarei. Nesses últimos tempos, procurando fazer tudo o que ainda nao fiz e tempos de uma nostalgia do presente. Como vou sentir falta dessa rotina daqui, como vou sentir falta das pessoas, do meus lugares preferidos, da cidade em si.

Já estou tendo sintomas pré-Brasil, fiz seguro contra roubo pra câmera, outro dia atravessei a rua porque vi um grupo suspeito, e voltei com minha mania de verificar se fechei a porta no mínimo três vezes antes de sair de casa. Logo menos, estou eu, usando 4 chaves pra entrar em casa. Talvez mais, soube que fizeram novo muro, com novo portao, possa ser até com cerca elétrica, os moradores devem estar orgulhosos e se sentindo super seguros. Falsa liberdade essa que a gente tem, se cercando e se enjaulando. Mas é, sao realidades diferentes, se nao tem muro, levam tudo que a gente tem em casa. Já em Berlim, ninguém quer mais saber de muro. Bom, assim fica fácil dizer onde prefiro estar.