25.5.10

Studentenwohnheim

O lugar onde vivo.

Queria deixar pra escrever esse texto quando já estivesse no Brasil, poderia escrever um texto mais pessoal, com a "proteção" de não estar mais aqui. Mas não, quero escrever o texto no presente, e não no passado.

A procura

Vim pra Berlim quase na roubada, sem saber direito o que ia se passar. O plano era conseguir de alguma forma passar um ano. Mas só tinha dinheiro pra 6 apertadíssimos meses, sem direito a fazer viagens e ainda assim na dúvida se o que eu tinha juntado no Brasil seria suficiente. Também por isso, no começo, fui morar com minha tia, que já mora a mais de 20 anos em Berlim. Mas lá não podia ficar muito tempo, e também, claro, precisava do meu lugar. Com um mês, as coisas se resolveram e pude respirar um pouco aliviado, conseguiria passar um ano em Berlim. Mas até então, nada de apartamento, todos os Wohnheim's (residência de estudantes) estavam lotados. Só achava vaga no extremo leste da cidade, muito longe da TU-Berlin e de acesso meio complicado. Minhas idas ao leste Berlim atrás de quarto eram sempre cômicas. Não houve uma vez que eu não tenha me perdido. Uma vez fui atrás de um Wohnheim numa rua de nome tal, a qual não foi difícil de achar. O problema é que a rua, depois de um tempo passou a virar à esquerda e à direita, virou um enorme quarteirão e, inclusive fui parar num cruzamento onde a mesma rua de cruzava. Quase um conto Kafkiano. Também procurei vagas em WG's (Wohnungsgemeinschaft), apartamentos que a galera divide entre si. Mas com um orçamento de no máximo 200 Euros pra pagar aluguel com todos os custos extras, não estava achado muita coisa que prestasse. Fui parar em cada lugar... Achei um quarto em Neukölln, numa casa com 5 meninas, por 170  euros. Perfeito, não? Claro, se o quarto não fosse da largura de um corredor. Também fui parar em Wedding, onde tinha um quarto por 200 euros. Sala era legal, tudo grafitado, parecia uma ocupação, os moradores também pareciam ser gente boa. Mas o quarto era sem móveis e ainda tinha os custos extras por fora. Também não deu.

Enfim achei o quarto na Danckelmannstrasse, perto da TU, 206 euros, ainda viável. Falei que sim, reserva aí que vou sacar o dinheiro. Não posso reservar e tamos fechando agora. Ok, volto amanhã. Amanhã é sexta, meu jovem, estará fechado. Ah sim, volto segunda. Na segunda tive que resolver umas coisas do visto, e perdi a hora. Na terça, enfim, fui lá, com toda a documentação e dinheiro. Então Herr Braun me fala que o quarto já foi alugado. Como? Sim, acabei de alugá-lo. Então, volto eu com a minha procura. Eu já imaginando me mudando no primeiro de maio, levando minha mala entre carros pegando fogo, pedras e garrafas pelo chão. Mas não dessa vez. Então achei um quarto perto de Ostkreuz por dois meses. Ótimo. Decidi ir de novo falar com o Herr Braun pra ver se ele já teria algo daqui a dois meses. Ele fala que não, que tem algo pra agora. O cara que tinha alugado o quarto, havia desistido. Fui correndo em casa pegar tudo necessário e no mesmo dia peguei a chave.

O quarto

Nem tinha olhado o quarto antes, a não ser o quarto de um amigo que morava aqui. Não esperando lá grande coisa, o quarto podia ser diferente do meu amigo. Mas quando entrei, me surpreendi, quarto enorme. Com uma pia e toda a mobília básica. No outro dia fiz a mudança, ou seja uma mala e alguns livros numa caixa.

Desde então, já passou muita gente pelo quarto. Nove pessoas, além de mim, foi o recorde de quantidade de pessoas que dormiram aqui. Algumas festas, conversas pela madrugada, quantidades industrias de vinho e cerveja já foram bebidas aqui, violão, Brasil, o mundo. Noites sem dormir, alguns dias sem fazer nada. Esse quarto carrega uma energia forte, por vezes talvez carregada. No começo de maio, fez um ano que estou aqui, e devia sim, fazer uma festa. Vai ser difícil deixar esse quarto, afinal é o meu quarto. Depois vem alguma outra pessoa, estudante, sei lá de onde e vai habitar o meu lugar. É foda. Mas sim, acho que terá que conviver com essa energia por um bom tempo. Estou bolando um jeito de deixar minha marca por aqui, a qual ninguém possa tirar. Pensei até em deixar a caução pro Studentwerk e fazer uma arte aqui. Mas não, preciso da caução.

Vida coletiva

Dividir cozinha com mais 11 pessoas pode parecer impossível e um grande problema, mas é uma das melhores partes de se viver num Wohnheim. Dá pra aprender muita coisa quando se tem 10 nacionalidades diferentes se trombando todo dia na cozinha. Conversas absurdas, choques culturais, religião. O problema é dividir o banheiro. Acho meio constrangedor essa coisa de privada coletiva. É como um banheiro público, só que são seus vizinhos. Mas também dá pra levar a situacao numa boa.

Quase não se faz nada sozinho, café da manhã, almoço, jantar, tomar banho conversando, passar o dia sem fazer nada, assistir um filme no bar lá embaixo, pra tudo se tem (quase sempre) ótimas companhias.

Quem manda é gente!

Toda a organização é feita por nós, algumas pessoas têm cargos na organização da coisa, mas todos podem teoreticamente participar das decisões, mas é, isso nem sempre funciona muito bem. A limpeza também é feita por nós, eu sou o responsável pelo 2° andar, corredor vermelho. Coisa que parece funcionar bem melhor que nos outros Wohnheims, onde são contratadas pessoas para fazer esse serviço, aqui é relativamente bem limpo.

Cheiros

Cheiro de maconha e sexo, é claro, mas em pequenas doses, o que predomina mesmo é o cheiro de comida asiática.

Kneipe

O bar lá embaixo oferece festinhas caretas uma vez por semana, mas em dias que não se está lá muito a fim da sair de casa pode ser bem divertido. Lá também rola uma espécie de cineclube. Temos um novo projetor, inclusive!



Vou sentir muita falta desse lugar. Muita falta de chegar em casa às duas da manhã e encontrar gente bebendo na cozinha, de acordar domingo às 3 da tarde e encontrar um ou outro que chega também ressacado para tomar café da manhã, de sentar na calçada na frente do prédio e passar a noite e madrugada bebendo sem pressa pra nada, das conversas, das pessoas, dos jantares e almocos coletivos, das guerras ideológicas grudadas na parede do elevador, dos cheiros (que nao os de comida asiática), dos bilhetes grudados com mensagens "educativas" por todo o prédio, sobretudo no banheiro,  de passar mais de uma hora tomando café da manha e depois ainda voltar pra cama, dos sorrisos, das situacoes, dos barulhos.



Texto ainda precisa ser complementado.

2 comentários:

  1. ha! era isso mesmo q eu pensava! TU-berlin é uma otema definiçao de lugar, deste lugar que estás, pelo menos pra mim. TU-Berlin, assim como Pasárgada para Bandeira, Drummond e Itabira, a Europa de Lars :D
    ha!

    otema resenha dos dias passados e presentes.
    finalmente eu sinto a energia deste quarto!

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  2. bote fé, Berlim é minha Pasárgada. (mas nao a TU. também talvez, mas nao somente) :)

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