25.12.10

Noite Branca


É véspera de Natal, acordo às sete da manhã para decorar músicas natalinas, terminar de escrever detalhes sobre as crianças e colar mapas no meu livro dourado. Serei o Papai Noel de 10 famílias berlinenses. A única coisa que me vinha à cabeça era: porque eu fui inventar de fazer isso? E claro, vinham várias respostas muito convicentes, mas mesmo assim era difícil manter a calma. Eu já estava há uma semana em tempo quase integral estudando e programando tudo isso. Tive que passar toda a terça-feira de antes do Natal pendurado no telefone falando com os pais, me informando sobre todos os detalhes possíveis, uma lista interminável de perguntas. Tudo teria que ser perfeitamente encenado, não poderia ser facilmente desmascarado.

Às 13h saio de casa, não faz tanto frio, boa parte da neve já derreteu, mesmo assim a pista estava bastante escorregadia, e claro, todo o percusso seria feito de bicicleta. Desço na Turmstrasse, Moabit, parte norte de Berlin, onde vivem muitos turcos, então nem parece tanto dia de natal, as lojas continuam abertas. Faltando 30 minutos para a primeira casa, me dirigindo para lá lentamente, ainda pensando: porque? porque? Como era de se esperar, me perco, havia pegado o sentido contrário, já não estou tão adiantado, tenho que correr. Enfim, acho a primeira casa, onde moravam duas crianças de 3 anos de idade. Ligo pro pai e digo que cheguei, mas preciso de 5 minutos para colocar toda a roupa de papai noel. Preciso me trocar na escada do prédio, com medo que alguma outra criança me veja, me visto rapidamente. O que eu poderia argumentar estando com barba na mão e ainda sem o travesseiro na barriga?


Estou pronto! Me olho no espelho e penso, eu sou completamente louco. Trabalhando de Papai Noel, na Alemanha, onde o Natal é super tradicional e sem ainda falar alemão perfeito. Penso tudo isso em um segundo, então aparece o pai. Me fala alguns detalhes, ajuda a colocar os presentes no saco e diz que estou bem como o bom velhinho. O que me tranquiliza bastante.

Primeiro momento, coração acelerado. Bato forte na porta, escuto as crianças correndo em direção à porta, que é aberta devagar e começa minha atuação. Hohoho! As crianças lindas, gêmeos, um menino e uma menina. Falo o nome delas e pergunto se posso entrar. Vou entrando pesadamente, falando com toda a família. Sento no sofá e digo para cantarmos algo. Toda a família canta, depois as crianças me contam uma pequena história de Natal. Olho no livro dourado, vejo que foram boazinhas no ano, distribuo os presentes, cantamos mais uma música e então parto. Tudo isso rápido, uns 7 minutos. Desço, troco de roupa, olho no mapa onde mora a próxima família. Vamo lá! Então já havia perdido o medo inicial e ia pensando no caminho que bom está vivendo uma experiência como essa e que bom ter aceito o desafio.

As coisas foram correndo bem, as famílias eram simpáticas, algumas me davam até algo pra comer, as crianças super tranqüilas, os locais próximos e fáceis de achar. Até que eu comecei a me afastar um pouco do círculo que eu estava, fui parar num condomínio classe média de prédios altos, algo estranho de se ver na parte ocidental da cidade. Fiquei observando o lugar, uma arquitetura moderna, mas que não agredia, penso já ter visto esse lugar em algum filme que foi rodado em Berlim, mas não consigo me lembrar qual. Com a família desse prédio havia combinado de pegar os presentes com uma vizinha, uma senhora de uns 70 anos que parecia morar sozinha. Quando cheguei lá, ela estava cozinhando algo pro Natal, um cheiro muito forte de comida na casa, lugar abafado, peço água e sento, já estou muito cansado. A senhora não pára de falar, diz conhecer não-sei-quem que é de Portugal e que eu poderia passar na casa de não-sei-quem pra ir conversar um pouco de português. Olho o relógio, estou começando a me atrasar, e atraso nesse dia seria que nem bola de neve, não conseguiria chegar na hora em mais nenhuma casa, as pessoas começariam a me ligar, perguntar por onde anda o Papai Noel, tudo poderia ir água abaixo. 

Me visto, vou correndo pro apartamento da família, um andar acima, começa a encenação. Família classe média alta, tradicional, crianças simpáticas, fofinhas. Depois de toda a cerimônia, o pai diz que as crianças têm uma surpresa pra mim. Começam a tocar piano e a cantar uma música de Natal, uma cena incrível. Só que o tempo corria, a música não dava sinais que iria acabar, já estava meia hora atrasado pra próxima família. Finalmente a música acaba, me despeço, saio correndo, estou muito atrasado, já havia escurecido.  

A próxima casa ficava perto das primeiras, então volto pro local do início. Dessa vez, prédio antigo, paredes descascadas. Toco no apartamento da vizinha pra pegar os presentes, agora sem conversas, penso. Mas a vizinha era uma mulher, digamos, bem atraente. Dessa vez, eu que acabo puxando conversa. Ficamos só na conversa,  troco de roupa e vou pra casa da família. A mulher me adverte, o menino é virado. Entro no apartamento, família pobre, o menino me adorou, ficou me mostrando tudo que tinha, tudo que "eu" já tinha dado a ele, não parava de falar e pular, nunca vi tanta alegria. Me despeço, pego o dinheiro com o pai, um cara enorme com uma tatuagem no rosto que me fala algo como, massa, foi perfeito! 

Saio feliz, agora para uma casa onde me esperam três crianças. Preciso pedalar muito rápido, o risco de queda é enorme, estou muito cansado. Chego no prédio, vou me trocar numa garagem escura, assusto os vizinhos que chegam. Calma, calma! Sou apenas o papai noel, digo. Toco a campanhia, mas quem aparecem são as crianças do apartamento vizinho. Insistem pra que eu vá primeiro na casa delas, que elas foram super boazinhas, perguntam pelos presentes. Mas, claro, eu não tinha presentes pra elas, então digo que volto mais tarde. 

Finalmente entro na casa, me sento na poltrona como um velho de fato. As crianças vêm tirar foto, cantar, me perguntam mil coisas e me mostram uma foto do ano passado, lá estava "eu". Falam que eu havia falado inglês com elas no ano passado, me perguntam porque eu estou falando alemão. Falo que o papai noel precisa ser poliglota e falo umas coisas em espanhol. 

Quando saio do apartamento dou de cara com as crianças do vizinho que estavam lá esperando. Meu presente, papai noel, meu presente! Bateu o desespero ver aquelas sei lá quantas crianças gritando e puxando minha roupa, então tentei fugir, desci as escadas correndo com as crianças me perseguindo, que eram mais rápidas do que eu. Parei e consegui contornar a situação dizendo que eu já voltava, precisava pegar os presentes, só assim me deixaram partir. 

No caminho pra próxima casa, me perco. Neve, muita neve nessas ruas já próximas ao Tiergarten. Uma mãe me liga, já tinha dado a hora de eu estar lá e ainda tinha que passar na casa de três famílias, havia mesmo me atrasado bastante. Começa uma discussão por conta disso, claro. Mas a mãe não ajudava em nada, então perguntei se ela ainda queria mesmo que eu passasse lá, porque eu estava perdendo ainda mais tempo com ela ao telefone. Ela desligou na minha cara, ótimo. 

Acho o lugar, outro condomínio de prédios altos, dessa vez a arquitetura agride, me lembro de Recife. Família classe média alta, menina mimada, a mãe pede pra eu tirar os sapatos antes de entrar. Tive que fazer isso e assim perdi toda minha moral. A menina nem me deu bola, ganhou uns 15 presentes, nem cantou nada pra mim. Saí de lá correndo. 

Vou agora entregar presente pra um menino de uns 2 anos. Na entrada do prédio piso em merda de cachorro, perco um tempo enorme tentando limpar toda aquela sujeira. Quando entro na casa, o menino sai correndo de mim, não pára de chorar nem um segundo. Bom, então foi bem rápido. Só os avós que se divertiram comigo, sentaram até no meu colo pra tirar foto.  

Saio pedalando ainda mais rápido, a próxima casa fica longe, lá tinham duas meninas, a mãe era italiana, o pai, alemão. A família mais bonita, minha pior encenação no Natal. Só queria ir pra casa tomar uma garrafa de vinho e dormir. Acho que eu fui descoberto nessa casa, as meninas já não eram tão novas, meu alemão falhou, tentei falar algo em italiano no final e também não deu certo, um desastre. Então me comunico com a mulher que eu havia discutido ao telefone, diz, puta da vida, que eu não devo mais ir lá. Ainda bem, menos uma casa. E lá me aguardavam cerca de 5 crianças. É, estraguei o natal de uma família, mas se eu fosse, ainda podia ter sido pior, devido ao meu estado de moribundo.  

Bom, agora só restava uma família, casa de Phattha, uma menina de 5 anos, super inteligente, ficou muito desconfiada, me perguntou mil coisas, e o alemão cada vez pior, mas acho que deu pra ela acreditar um pouco na história. Pego minhas coisas e desço as escadas. Troco de roupa, o saco nas costas, vou pedalando devagar, paro na esquina, respiro fundo, faz muito frio. Paro num Spätkauf (loja de conveniência), compro uma cerveja e entro no metro. Missão cumprida, os pés doem, a cerveja embriaga mais fácil. 

Ceia de natal em casa, depois me encontro com os vários papais noéis de Berlim num bar, só restam alguns, já é tarde, todos bêbados, e assim como eu, cheios de histórias pra contar. 

Tudo isso começou em novembro do ano passado, enquanto perambulava pelo Mensa (refeitório) da TU Berlin com dois amigos, uma moça me parou e perguntou o que eu ia fazer no Natal. Falei que não faria nada demais, no máximo uma ceia de Natal com os amigos mais próximos em Berlim mesmo. Então ela me perguntou se eu não gostaria de ser o papai noel. Ela me explicou mais ou menos o que eu teria que fazer e achei que era demais pra mim, ainda mais por conta do idioma. Mas aí ela disse que teria tempo pra praticar, que haveria um treinamento e que eu iria tirar tudo de letra.

Se tirei de letra eu não sei, mas eu encarei o desafio e agora tenho essa história pra contar. 

23.12.10

Berlin

Muita gente me pergunta por que Berlin, por que eu gosto tanto da cidade. Bastaria dizer, porque sim! Mas as pessoas são curiosas, continuam me perguntando e perguntando. Eu vou tentando responder tudo, até mesmo pra confirmar pra mim mesmo que de fato Berlim é o lugar. Mas então, por que Berlim?

Porra, um lugar super frio, com um verão curto e sem mar? Não, não dá pra mim, muitos dizem. Pois é, talvez por essas condições climáticas e geográficas tão ruins, que Berlim se transformou num excelente lugar pra se viver. Ao contrário dos escandinavos que parecem acreditar que mais leis fazem o bem-estar da população aumentar, em Berlim surgiram boates, cafés, restaurantes, galerias de artes, cinemas, espaços públicos para a população e muitos outros equipamentos culturais. Tudo isso faz a cidade ferver, mesmo quando temos -20°C.

Berlim é uma bolha de caos, criatividade e alegria dentro da sociedade altamente funcional e normativa alemã. Arte urbana espalhada por toda cidade, tudo ali vira arte, a sujeira das ruas dos bairros próximos ao centro, a decadência de alguns pontos de tráfico, a ainda existência de terrenos baldios e lugares abandonados, as festas de rua quando se está quente, o quebra-quebra com a polícia no primeiro de maio, as inúmeras intervenções e instalações urbanas, os flash mobs e os protestos instantâneos, tudo isso dá muita vida à cidade e nos faz perguntar, estamos mesmo na Alemanha?

Ainda tem a parte bucólica da cidade. Inúmeros parques, lagos, florestas e até uma montanha, que quebram um pouco toda a loucura que é viver em Berlim. E tudo isso espalhado pela cidade, é possível se estar bem no centro urbano, virar uma esquina e se deparar com um parque na beira do Spree, o rio de águas calmas que corta toda a cidade. Uma das melhores coisas para se fazer em Berlim no verão é deitar na margem do Spree, num lugar onde não tenha ninguém, com uma garrafa de vinho ou várias de cerveja e uma boa companhia.

Além de tudo, a população de Berlim é muito jovem, por ser uma cidade que atrai muitos estudantes devido ao seu baixo custo de vida e da vida noturna frenética. De fato nunca me senti tão jovem como em Berlim, tenho a sensação que vivendo ali eu não envelhecerei nunca. As pessoas nos bares e boates até de manhã, ou no verão, nas calçadas. Não existe preocupação, não existe stress.

Tudo isso numa cidade que funciona perfeitamente, onde as pessoas se respeitam e são respeitadas, onde o sistema de transporte é perfeito e onde o individualismo de cada um não é questionado. Um ET poderia andar tranqüilamente no metrô de Berlim e ninguém iria nem prestar atenção, ele só teria que estar com o ticket, se não, levava uma multa.

Enfim, Berlim é uma cidade extremamente urbana, jovem e criativa. É isso que muitos procuram, isso eu já encontrei.

Consumo

Alemanha, a terra dos impostos progressivos, as remunerações são altamente tributadas, perto dos 40%. Entretanto, o consumo não é muito tributado, o que torna tudo mais barato por lá. Fazer feira em Berlim é mais barato do que fazer feira em Recife, mesmo transformando euros em reais. Eu pagava imposto ao Governo Alemão pelos jobs que fazia, mas esse imposto era mais baixo por eu ser estudante. Por isso que a Alemanha é um dos países mais interessantes pra se estudar, principalmente em Berlim com seus aluguéis baratos, vida boêmia e ensino público gratuito.

22.12.10

Jeitinho

Uma vez em um supermercado em Berlim o cartão de crédito não queria passar, erro de leitura. A moça do caixa me devolve o cartão, pois não irá mais nunca pegar e pede pra eu pagar em dinheiro. Como não tinha dinheiro, passei a tarja magnética do cartão no cabelo e pedi pra ela passar novamente. Claro, dessa vez funcionou. A moça ficou impressionada com o jeitinho que eu dei, parecia que havia descoberto a coisa mais fantástica do mundo. Desde então é capaz de ela ter adotado esse jeitinho no dia-a-dia e as coisas podem se tornado mais fáceis quando ocorre um problema desse tipo.

Acho que os alemães podem ganhar muito se tornando mais flexíveis, adotando um pouco esse 'jeitinho brasileiro'. Assim como, nós, brasileiros, podemos ganhar muito adotando na medida do possível o 'jeitão alemão', ou seja, mais respeito aos outros e a individualidade de cada um.

5.12.10

Progresso


Ick bin ein Freak!
Upload feito originalmente por brecht [Albrecht Mariz]
O progresso brasileiro chegou a Berlim. O nosso progresso tem como principal pilar de sustentação a destruição.






O desenvolvimento das nossas cidades que em vez de nos propiciar melhores lugares para se viver, transformam nossas vidas num verdadeiro caos, nos restando as bolhas, quando não, as gaiolas de segurança máxima.

Berlim, no outro extremo do nosso significado de desenvolvimento, mantém várias características de uma cidade que se desenvolve sem sair destruindo tudo que se vê pela frente, ou mesmo onde o progresso parece ainda não ter chegado, pelo menos não da forma como nós brasileiros conhecemos. A liberdade do ser humano no meio urbano continua tendo prioridade, as pessoas são respeitadas durante o processo de transformação da cidade.

Mas ontem recebi uma mensagem bem triste de um amigo. Começaram a destruir a fábrica de sorvete abandonada onde nos reuníamos para tomar uma cerveja, conversar besteira e tirar as melhores fotos da Fersehturm. Esse telhado onde Nick está, já foi destruído. O resto da fábrica em pouco tempo também será demolida, no lugar serão construídos escritórios. Empresas de comunicação pretendem ocupar (ou o termo seria invandir?) todo o pedaço da margem do Spree que vai da Alex até a Warschauer Strasse, é o projeto Mediaspree.

Estruturas como a da fábrica de sorvete deveriam ser mantidas e restauradas, e não simplesmente destruídas, quando da existência de um projeto desse tipo.

Creio que a cidade perde com isso. E a perda para nós é imensamente grande.

O Mediaspree ainda pretende desocupar e destruir outros vários espaços na margem do Spree, como bares, restaurantes, boates e espaços culturais.

No Recife, querem vender o Parque dos Manguezais e aterrar o que resta dos nossos mangues.

[Minha última foto do local]

8.10.10

RAGE AGAINST THE MACHINE

06th June 2010. Finsbury Park, London. 

Um domingo em Londres, chego 10h da manhã no Finsbury Park, lugar onde o show do Rage Agaisnt the Machine começaria lá pras 21h. Chego lá ainda meio desconfiado, pensando talvez que tudo fosse uma pegadinha, como era difícil acreditar naquilo tudo. Vou chegando no parque e já vejo de longe as duas estrelas enormes, cada uma de um lado do palco e mais na frente uma fila de umas 100 pessoas, umas que esperam pra pegar o ingresso, assim como eu, e outras que já estão lá com ingresso, mas querem garantir seus lugares na grade. Assim passo a acreditar que aquilo está pra acontecer.

Vale contar que não havia recebido meu ingresso pelos correios como haviam me prometido, e só no dia de partir pra Londres que me avisaram que eu deveria pegar meu ticket no lugar do show. Uma série de informações desencontradas, que deixou todo mundo que não tinha ingresso louco durante a semana do show.

Depois de pouco mais de uma hora na fila, consigo pegar meu ingresso. Guardei como um tesouro dentro do passaporte e fui fazer uma feira pra antes do show.
A abertura dos portões era prevista pras 14hrs. Com meia horinha de atraso, os seguranças avisam com um megafone que vão abrir os portões, falam também pra ninguém correr, fazer tudo com muita calma. Movimentação, todo mundo se preparando, amarrando firmes os sapatos, deixando firme a mochila nas costas. Portões abertos, e claro, a calma durou menos de 10 segundos e no final todo mundo começou a correr, uns caindo em cima dos outros, todo se ajudando a levantar, depois caindo de novo, e eu não conseguia parar de rir.

Já lá dentro, fila enorme se forma pra comprar as camisetas da banda. Battle of Britain, Cowell: 0 Rage: 1, Victory Celebration...

E o clima era de festa mesmo, de celebrar um fato histórico, a vitória de pessoas que se juntaram e conseguiram vencer a grande mídia. E muito, muito mais que isso.

No Reino Unido é muito tradicional o hit de Natal, ou seja, a música mais vendida do ano através de internet. Cada download custa apenas 1£ e parece que todo por lá faz questão de comprar para colocar seu favorito no primeiro lugar. Uma coisa meio besta, fútil, mas que eles levam à sério. Nos últimos cincos anos, o single mais vendido na Inglaterra era o vencedor de um programa de calouros chamado X Factor. Era de se esperar que isso continuasse a acontecer e que Joe McElderry, o vencedor do X Factor 2009, fosse o n°1 de Natal.

Mas então um casal de ingleses, Jon e Tracy Morter, resolveram fazer um campanha apenas através de Twitter e Facebook para que Killing in the Name fosse o single mais vendido no Natal de 2009. Eles já haviam feito o mesmo em 2008, mas não deu certo. (Não me lembro qual foi a música escolhida pra a campanha de 2008). A campanha de 2009 deu muito certo, e chamou a atenção de toda a Inglaterra. Isso resultou na apresentação da banda na BBC, versão que o canal de televisão teve que censurar ao vivo, pois Zack, claro, não deixou de falar a parte mais importante no final da música.

Killing in the Name casou perfeitamente com o sentimento que as pessoas tinham de não quererem mais fazer o que uma grande mídia falava, de não fazer o que a televisão diz implicitamente, e muitas vezes explicitamente, o que você deve fazer.

No dia 20 de dezembro saiu o resultado, e Killing in the Name foi o single mais vendido de 2009 no Reino Unido. Música essa que agora de uma vez por todas se consolida como uma das mais importantes da história. Lançada em 1992 com o surgimento da banda, completamente revolucionária, anarquista e com o refrão certeiro: Fuck you, I won't do what you tell me.

Isso tudo mostra o qual importante é a internet como forma de organização. Mostra que nós, podemos sim nos organizar pra fazer alguma coisa e mudar algo que não nos agrade.

Tudo isso resultou na declaração dos integrantes do Rage que iriam fazer um show em Londres para agradecer por tudo. Show que foi de graça, com ingressos sorteados através de internet, os quais em pouco menos de 3 horas de esgotaram. Nesse show, eu estive presente.

Show que ainda teve na abertura Gallows, Roots Manuva e Gogol Bordello. Não queria nem me mexer nesses shows pra não gastar energia, mas não teve jeito. Os shows de Gallows e Gogol Bordello foram incríveis, de muita energia e pancadaria do começo ao fim. Nos intervalos colocaram uns DJs péssimos, até os caras do Gogol que tavam se preparando pra entrar ficaram olhando com cara de What a fuck? DJs expulsos a garrafadas, copos voadores e restos de comida.

Depois do show de Gogol Bordello, a multidão começa a se aglomerar, 40 mil pessoas, tirando as que pularam o muro. Cada espaço é sagrado, ninguém vai me colocar pra trás, todo mundo tentando meio que demarcar território, empurrões, cotoveladas, sorrisos ansiosos, pessoas enlouquecidas, últimos goles d'água, os copos ainda passam de mão em mão, tira uma foto minha aí brother, caralho, vai começar! Ainda não, a cada música que termina, colocada pra acalmar o público, a expectativa aumenta.

Então começa nos telões uma vinheta com uma caricatura do cara do X Factor, Cowell, falando, que triste ser derrotado e anuncia Rage Against the Machine. Uma sirene de emergência começa a tocar e a bandeira da banda com a estrela vermelha começa a subir bem devagar. As pessoas já começam a pular, a banda entra unida e a frase mais aguardada da vida de muita de gente é dita:

Good evening, we are Rage Against the Machine from Los Angeles, California!

Então começa Testify. Sim, aquilo estava mesmo acontecendo!



A partir de então não tenho mais propriedade pra falar de nada com uma sequência lógica de fatos. O set list ajuda a explicar:

Testify
Bombtrack
People Of The Sun
Know Your Enemy
Bulls On Parade
Township Rebellion
Bullet In The Head
White Riot (The Clash cover)
Guerrilla Radio
Sleep Now In The Fire
Freedom


Ou seja, sem tempo pra respirar, pra pensar em algo. Depois de Freedom, música onde sim, como prometido, estava pior que o gordinho do final do clipe, palco se apaga, saem todos. Entra outra vinheta mostrando os fatos mais importantes da campanha, reportagens de jornais, afirmações de que, Rage ganhar, não, isso não é possível e no final:


X-Factor: 450,838
RAGE: 502,672


YOU MADE HISTORY





Foi muito foda participar disso tudo. Rage é de longe a banda que mais admiro e mais escutei na minha vida. É a melhor banda pra mim dos vivos, dos mortos, e creio dos que ainda virão por aí. Foi sem sombra de dúvida o melhor show da minha vida.


Vale a pena ver o video da BBC do dia show. Passa muito toda a energia daquele dia.


[BBC] Rage Against the Machine perform free gig for fans


Durante o show Zack disse: We can change the world!

Pode até não ser verdade, mas foi muito bom escutar isso, e a sensação que tínhamos naquele domingo era mesmo essa.




Hoje, 08 de outubro de 2010, um dia antes do show no SWU. Primeiro show do Rage na América do Sul, o dia de amanhã será histórico assim como o dia 06 de junho de 2010. Pena não estar lá pra ver isso ao vivo. Então, um ótimo show pra todos que vão!

E o que virá depois? Tenho a sensação que depois de passar pela América do Sul, eles terão energia pra um novo CD.



It has to start somewhere 
It has to start sometime
What better place than here, 
what better time than now?

All hell can't stop us now!

12.9.10

Zeitreise


Słońce
Upload feito originalmente por brecht [Albrecht Mariz]
As portas do vagão se fecham, o trem começa a andar. Quantas vezes não era eu que estava ali, naquela mesma plataforma, com o olhar triste por ela ir passar umas semanas em casa, ou com um sorriso ansioso esperando ela descer do trem. Agora, ela ficou, eu tive que partir, mas não pro país vizinho, e não por algumas semanas, mas por muitos meses.

Quando o trem partiu, e não pude mais ver ninguém que tinha ficado na plataforma, fui procurar meu lugar. Chego na cabine, cinco adolescentes ocupam todo espaço, o lugar que sobra, claro, não é na janela. Apesar de eu ter reservado meu lugar na janela deixei o cara que dormia com a namorada ficar lá. Foram tentando puxar papo, eu falando pouco, com meu inglês terrível, eles também. Eram tchecos, estavam vindo de Praga e indo para Amsterdam. Coffe shop, red light district, maconha, drogas, e os olhos deles brilhavam. Depois de um tempo um casal some por um bom tempo, ganho uma cama. Não consigo pregar o olho, mas apesar disso, a viagem passa até rápido. Hora de trocar de trem. Quando já estou descendo, o cara que dormia com a namorada e não havia acordado em nenhum momento, vem correndo atrás de mim, e sem falar nada, me entrega meu marionete e volta para a cabine. Não aguentava mais carregar esse marionete e tive a idéia de deixar para ser o mascote deles da viagem. Não deu certo. Agora tá assustador, por ter se quebrado todo na viagem.

O segundo trem já está esperando na plataforma, pergunto qual o meu vagão, o último. Estava no primeiro, e em cinco minutos o trem iria partir. Deu tempo. Trem bem melhor, dessa vez ninguém indo pra Amsterdam, pessoas com cara de cansadas, fazendo provavelmente uma viagem de negócios. O homem que dorme na minha frente, não fecha os olhos enquanto dorme. Fiquei olhando direto nos olhos dele, sinistro.

Trem atrasa, preciso descer em outra estação e pegar outro trem pra chegar no aeroporto. Já de manhã na cidade de Mainz, vários engravatados esperam o trem para Frankfurt, trem lotado, mas consegui pegar um lugar sentado.

O aeroporto de Frankfurt é enorme, mas por sorte acho o Check-in rapidinho. Assim que faço check-in aparece um amigo meu. Não acreditava que ele ia aparecer. Aquilo foi mesmo do caralho, um grande amigo aparecer pra se despedir. Ainda tempo pra um café, se bem que idéia original era tomar uma cerveja para lembrar dos dias na cozinha de casa quando a gente decidia que não ia fazer nada nesse dia, a não ser beber. Ou então morrer de rir, com os olhos vermelhos, vendo um outro vizinho alucinado cozinhando freneticamente com uma quantidade absurda de temperos.

Mais uma despedida, como é difícil pra mim, e vou para o portão de embarque. O aeroporto de Frankfurt agora sim se mostra enorme, devo ter andado quilômetros até achar meu portão. Já no avião, última ligação, no outro lado, voz triste, fica bem, se cuida, me mande notícias, por favor. Cruzando o oceano, sempre o maldito oceano, Salvador, Recife.

9.9.10

Deutsch

Alemão não é mesmo um idioma fácil, demorou para me sentir realmente seguro com o idioma, se bem que na universidade... lá a coisa nunca deixou de ser feia, apesar, de sim, ter feitos enormes avanços. Mas aqui não quero falar sobre gramática alemã e muito menos sobre lingüística alemã, termos demasiado complicados. É que agora indo deitar, me lembrei de um erro que eu sempre cometia, sempre falava Ich gehe ins Bett, Ich bin ins Bett, e sempre escutava Ach! Du bist immer ins Bett, Du und dein Bett hey! O certo seria Ich bin im Bett, sendo assim dativo. E já estou eu falando de gramática...

Bom, isso eu aprendi, mas até hoje tenho problemas com o Ö. Sempre pedia um Doner, ao invés de pedir um Döner. No caso, sempre pedia uma tempestade, invés do famoso sanduíche berlinense. Uma vez pedi um köfte, pra variar, e claro, falei: Ein Kofte, bitte. O cara não entende, repito kOfte, então ele, repita comigo, Kööööfte. Sempre fui alvo de piadinhas de quem não tinha esse problema com o maldito Ö.

Também era problemático o uso dos verbos modais, no começo havia uma lista grudada na parede com todos os 5 (são 5?) e seus significados. Tinha mesmo problemas com isso, e mesmo depois que aprendi, usava muito pouco. Falava: Na, hören wir Musik? Até começar a escutar, Wat? Ich hab gar nichts verstanden... E então passar a usar o danado do modal, Naja... wollen wir Musik hören? -Na, klar!

Os maiores problemas eram os com conotação sexual, e nem eram muitos, e mesmo assim muito sutis. Um dia cheguei animado na cozinha dizendo que podia dormir na casa da mãe de uma amiga na Polônia, cheguei dizendo, Ich kann mit der Mutter von Marta schlaffen!!! E todo mundo, Waaas??? Repito, Ja, nicht gut? Ich kann mit der Mutter von Marta schlaffen! Bom, estava falando que ia dormir, no caso transar com a mãe dessa minha amiga. O certo seria falar, Ich kann bei der Mutter von Marta schlaffen! Apenas a preposição bei no lugar de mit. Já tive muito problema com esse mit, mas depois passei a usar a favor dando uma de doido. Usando o mit, vendo a reação e então cambiando ou não para o bei. Vantagens de se ter a desculpa que não fala alemão direito.

Desculpa essa que sempre usava na universidade para adiar datas de trabalho, tentar ganhar um pontinho extra por ter ali me esforçado com esse idioma acadêmico desgraçado, de não entender nada nas reuniões (porra, aí não era nem desculpa mesmo), enfim uma série de desculpas que sempre funcionaram muito bem.

É ótimo e ao mesmo tempo terrível ter que fazer tudo numa língua que não é a sua. No primeiro mês era um terror pegar o U7 com Dick (sim, esse era o nome do cidadão), da TU até Neukölln. Mas depois de aí, uma certa fluência, passei a caçar gente pra conversar, não conseguia mais parar. E depois de um bom tempo, nos aí últimos 6 meses, conversar pensando direto em alemão, errando pouca coisa, senti mesmo que tinha evoluído bastante, mas ainda sem entender muita coisa e pedindo uma tempestade no lugar de um kebap.

1.9.10

Enjaulado


Enjaulado (Caged)
Upload feito originalmente por brecht [Albrecht Mariz]
Uma semana, uma semana separa o dia que cheguei de volta ao Recife do post de hoje. Uma semana, como no post anterior que dizia faltar uma semana pra deixar Berlim.

Quando, em Berlim, fecharam a porta daquele vagão do trem que vinha da Varsóvia, me senti como que numa máquina do tempo. Naquele momento começaria uma viagem no tempo, uma viagem de volta ao passado. Olhar nos olhos das pessoas que ficaram na estação principal de Berlim, que permaneceram no futuro, olhar nos olhos dessas pessoas, tão queridas, pela última vez dentro de muito tempo. Os meus olhos eram só lágrimas e a unica coisa que me fazia parar, era pensar decidido que eu irei voltar. E a vontade de desistir desse trem não faltou, desistir de tudo, viver de qualquer coisa em Berlim, só pra estar ali, só pra se estar com quem se quer. Mas faltou coragem para se entregar a essa vontade, sempre com o pensamento da volta, mesmo sabendo que nada será como antes, uma viagem ao futuro é bem mais incerta do que uma viagem ao passado. Mas se estivesse permanecido, as coisas continuariam como antes? As coisas sempre mudam, não tem como fugir disso.

Uma semana em Recife, uma semana de volta ao caos, de usar cinco chaves para entrar em casa e se sentir "seguro", enjaulado, de volta ao passado, enjaulado no passado. Mas se o futuro está logo ali, pra que ficar preso no passado?

O blog continua por um tempo, até eu achar que não tem mais nada pra escrever sobre Berlim, ou até eu ver que chegou a hora de parar. Fui percebendo que muita gente acompanha o que escrevo por aqui, muitas pessoas que nem conheço. Apesar de ter me assustado um pouco com isso, pois o que escrevo é por vezes super pessoal, achei isso muito bom.

16.8.10

Uma semana

Puta que pariu, como é louco dizer: em uma semana estou em Recife. Isso é até bem feliz de dizer, vem bons sentimentos, um frio de ansiedade na barriga. Mas é bem triste dizer: em uma semana não estou mais em Berlim. Porra, isso é mesmo foda. Algo que me já me deixa muito pertubado a vários dias. Bom, mas não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, e mesmo se isso fosse possível, não queria. Fico feliz por ter me jogado mesmo nesse tempo em Berlim, de quase ter cortado relações com o Brasil, de mesmo não saber o que se passa por lá. Tudo será novo de novo, e nada será como antes. Voltar com olhos de quem viu muita coisa diferente, voltar ainda mais revoltado com nossas mazelas, voltar chato pra caralho com música e vida noturna. Ficar frustado por não achar um Döner às 06 da manhã de uma segunda, ficar doente com tantos muros e cadeados, ficar mesmo com vontade de explodir todas essas bolhas criadas para imitar uma vida civilizada. Fotografar, fotografar o quê? Cotidiano, pessoas, isso é o que me interessa. Vou conseguir fazer isso com armas apontadas na minha cabeça? Voltar, voltar e não pensar mais em nada com relação a Berlim. Assim com me desliguei de tudo em Recife, vou me desligar de Berlim. Isso dói, mas sim, não vou estar em dois lugares ao mesmo tempo. Se bem, que jamais vou conseguir me desligar totalmente de Berlim, mesmo se quisesse. Talvez volte pra minha cidade, Berlim, e aí volto de vez, talvez assim passe a ser menos radical e consiga dessa vez manter relações com minha cidade, Recife. E agora mesmo que se foda tudo, 1000 km por hora até chegar no Brasil. 

7.8.10

Febre

Depois de tomar duas aspirinas, ainda tenho 38,6° de febre. Sabe-se lá quanto eu tinha de febre antes das aspirinas. Nisso, estou num sábado à noite em casa, e enquanto está acontecendo uma Open Air de graça com Dubstep lá perto de Ostkreuz, estou eu aqui vendo essa TV bizarra alemã. No Pro7, canal mais popular e o "melhorzinho", dois homens chupavam de joelhos dois picolés cor-de-rosa. Boquete em horário nobre. Depois de muito procurar algo que valesse a pena assistir, vejo que irá passar Family Guy na MTV, canal esse que se torna a cada dia pior. Pelo menos lá também passa South Park.

Mesmo com febre, ainda fui numa exposição de fotografia na C O Berlin. Exposição da Magnun, companhia formada, entre outros, por Bresson. Exposição que vale muito pelas fotos dele, sobretudo as tiradas na URSS, sendo ele o primeiro estrangeiro autorizado a fotografar a União Soviética durante a Guerra Fria.

1.8.10

Clichê berlinense

Clichê

Caí no clichê nesses dias. No sábado à noite, no teto de uma fábrica abandonada, o sol se põe, a Fernsehturm logo à frente e os antigos blocos de concreto da DDR à direita compõem o panorama. O som vem do Bar25, brinde com uma Berliner Pilsner, matar fome com um Döner.

Sim, isso chega a ser um clichê.

.

Fotos, longa exposição, dupla exposição. Pegar a bicicleta, Friedrichhain, Simon-Dach-Strasse, Drum n' Bass no Raw Tempel, bicicleta, passar na frente do Berghain, Döner, Raw Tempel, S-Bahn, bicicleta, ter que colocar de novo os óculos escuros.

Domingo digo, hoje não faço nada. Mensagem de um amigo, tem rave rolando ao lado da fábrica. Bicicleta, S-Bahn, Berliner Pilsner, fábrica abandonada, foto excelente que deu lá em cima. Rave, Berliner Pilsner, tenho que dormir um pouco, S-Bahn, bicicleta, Studentenwohnheim.

Isso tudo começou na quarta e foi se emendando até o domingo. Bar25, duas despedidas, White Trash, Luzia, Weekend, Simon-Dach-Strasse, Suicide Circus, Foto Tour, Märkisches Viertel, S-Bahn, bicicleta, fábrica.

Hammageil!

30.7.10

Discopogo!

É mesmo impossível conhecer todas as discos em Berlim. Todo mundo se esforça, tenta ir para o maior número possível numa semana, mas a quantidade é absurda. E ainda aparecem novas, e boas, a cada semana. Indie, Rock, Metal, Mininal, RussenDisko, Dubstep, Drum n' Bass, Balkan Beats, Eletro, e sim, até Psy se encontra aqui. Que por sinal, espero que essa coisa tenha enfim saído de moda no Brasil.

Por onde começar falando desses lugares? Pela melhor? Mas isso é quase impossível falar. Então pelo lugar que mais fui. Mas isso variou muito. Enfim, começo falando do lugar dos segundos sábados de cada mês, uma das festas com mais gente por aqui. Se trata da noite do Balkan Beats no Lido. Talvez a coisa que mais esteja em moda em Berlim, é o Balkan Beats. E todo sábado que tinha isso no Lido, era uma fila enorme dobrando fácil a esquina. O Lido foi em alguma época um cinema. Mas em Berlim, cinema, se fecha, não vira estacionamento ou shopping center, virou nesse caso o Lido. Lugar grande, com festa de Rock na sexta e famoso pelo famoso DJ Robert Soko e seus hits do Leste Europeu e dos Bálcãs. Quase todo segundo sábado do mês, eu estive lá.

Outro lugar que fui bastante foi o Sage Club. Toda quinta-feira tem duas bandas ao vivo. Indie, Rock, Nu Metal, Trash, Hardcore, todos os estilos possíveis. Até às 22 horas é de graça e no verão dá pra entrar na piscina. No porão ainda tem um piso com músicas mais comerciais e uns rock mais leves.

No Sage, funciona nas sextas e aos sábados o famoso, clássico e fora de controle, Kit Kat Club. Não é um clube de sexo, muito menos um puteiro, mas acontecem, sobretudo aos sábados, festas com algumas orgias. Pra entrar no lugar tem que tirar a roupa quase toda, ou estar lá enquadrado no Dresscode, ou seja, couro, muito couro, látex, mas muito látex, e pouca, pouquíssima roupa. As mulheres mais lindas, as pessoas mais loucas, música muito boa, não dá vontade de ir pra casa. As cenas de orgias, de homens se masturbando, me lembram muito mais que um filme pornô, me lembram Kubrick e seu filme de despedida. Um toque muito grande de surreal.

Surreal e submundo é o Berghain. Isso não só por causa do Dark Room (Dark Room - texto), mas sim por todo ambiente, escuro, drogas, muita fumaça, música industrial, música extrema, Dubstep, pessoas loucas, extremas. Lugar indescritível, experiência única e sem dúvida um dos melhores lugares que fui na vida, mas é muito pra mim, só fui algumas vezes lá. O que pode-se chamar de rave, acontece uma vez por semana, começando no sábado às 23hrs e terminando na segunda de manhã. O segurança na entrada é o cara mais mal-encarado de Berlim, precisa-se de sorte e um pouco de estilo "cool" para entrar no lugar. O Berghain é considerada a melhor boate do mundo.

Outro lugar bem difícil de entrar é o Bar25, pela quantidade de pessoas que inventam de ir lá num sábado à noite e também pela seleção na entrada. Lá também é preciso ser cool. Nunca consegui entrar lá, com exceção da quarta passada, mas era chill out, pouca gente. De qualquer forma, é um ambiente muito legal, decorado por alguém que tomou muito doce. As festas do domingo são privadas, no domingo passado a festa chamava-se Albert Hoffmann alguma coisa. Lá também tem restaurante, sauna, piscina, pista de skate, volei de praia, circo, cinema. Uma pequena cidade na beira do Spree, o rio que corta Berlim. O Bar25 é o preferido de Tarantino em Berlim.

Consigo falar de tudo? Bom, perto do Bar25 tem o Maria. Nas sextas, eletro, nos sábados geralmente Drum n' Bass e Dubstep. Muito bom, de música muito boa, mas que às vezes tem a entrada meio cara. No Maria eu vi DJ Marky, numa fase bem London.

Onde também sempre ia para escutar Drum n' bass era o Icon Club, lugar pequeno, num porão, mas foi por um tempo, onde tinham os melhores eventos, não só de DnB, mas também outros estilos. Raw Tempel, Cassiopeia, Rosis, Lovelite também têm vez ou outra DnB e Dubstep. E no Lovelite, vez ou outra também, Balkan Beats. Sendo que nesses lugares, tem-se geralmente todo o tipo de música. Precisa-se sempre olhar a programação.

No Mittwoch Club, é preciso de uma senha pra entrar. Também fica num porão do que parece ser uma ocupação. Som misturado, mas bom. Muito estudante Erasmus, a língua falada lá é o espanhol.

Minimal e eletro sempre tem no Tresor, onde o som é extremamente alto, uma parte do lugar é dentro da estrutura de um cofre no porão. Também tem o Weekend com eletro mais comercial e soft, mas mesmo assim bom, mulheres lindas, estilo cocota, e talvez a melhor vista da cidade, cobertura ao lado da Fersehturm na Alex. Ainda tem o Suicide Circus, lugar que parece ser novo e sempre com bons eventos. Além do Watergate, com a pista de dança no mesmo nível do Spree, vista fantástica também e música eletrônica não-comercial, mas também não-extrema. E ainda, claro, eletro, o Bar25...

Soda, Puro, 40 Seconds, Adagio, Felix... são os lugares com muita mulher e música comercial. Só fui nos dois primeiros, o Puro é o Weekend da parte oeste com música mais comercial, também na cobertura, a vista aqui é da Gedächtniskirche. E o Soda é uma disco enorme com vários pisos na Kulturbrauerei, centro cultural com outras várias boates, casas de show e cinema. Adagio e Felix, pelo que ouvi, são lugares extremamente chiques.

Sophien Club e Fritz Club são para crianças, música bem ruim. Além da Matrix e da Q-Dorf, esses que nunca me atrevi a ir. Não recomendo de maneira alguma. Estar em Berlim e perder tempo em lugares como esses é um crime.

Voltando ao Rock, na verdade ao Indie, tem o White Trash Food, gostei bastante nas vezes que fui. Shows ao vivo nos sábados. Com indie também tem o Bang Bang Club, mas me senti velho lá, fiquei constrangido e fui embora. A música também era soft demais.

Lá perto do Bang Bang, tem o Tacheles, galeria de arte, venda de drogas e algumas discos e bares com Djs, como o Cafe Zapata. O Tacheles é um importante centro de resistência das ocupações em Berlim. Lugar que vale dar uma passada, pelo menos pra uma cerveja no final da tarde.

Nas segundas-feiras e em alguns outros dias que não me lembro é dia de RussenDisko no Kaffee Burger. Estilo Lido em dia de BalkanBeats, mas com menos gente e, claro, música russa.

Ainda acontecem no verão, raves nos parques, algumas delas ilegais, a gente fica até a polícia chegar. Além das festas secretas em prédios abandonados, ocupações, etc. Festas divulgadas boca a boca, sempre fiquei sabendo um pouco tarde demais. 

Isso tudo que escrevi são de certa forma os lugares mais conhecidos, ainda existe muito mais coisa. Mas mesmo assim, esses lugares todos foram suficientes para um ano e meio. O problema é chegar a conhecer tudo, saber onde estão acontecendo as melhores festas. Aqui sempre é importante olhar a programação, não dá pra sair na doida em Berlim, por ser enorme e ter todos esses lugares espalhados. Claro, com sorte, pode-se achar um porão qualquer com Dubstep, uma rave no meio de um parque, um lugar abandonado com festa ilegal. Acredito que há muito mais coisa, mas que nesse tempo que me resta, creio que não chegarei a descobrir. A cena da cidade é meio secreta

As entradas, quando custam, variam entre 3 a 15 euros. Identidade às vezes é preciso, assim como é preciso saber que em muitos lugares os seguranças selecionam quem entra ou não, e não adianta discutir. No começo quase não saia pra esses lugares, tentando economizar, mas depois me dei conta que se não conhecesse a cena e a noite de Berlim, não conheceria direito a cidade.

E claro, perdoem-me minha pouca noção musical, sobretudo em relação à música eletrônica. O que não é Drum n' Bass, Dubstep, Minimal ou Psy, classifico de Eletro. Mas fica aí, talvez, um breve guia da insana noite berlinense.

Site que desde sempre consultei com algumas dicas do que se fazer à noite (e de dia) em Berlim:

030

[Acho que o texto irá precisar de complemento]

28.7.10

Jobs

Entre um corredor e outro que tenho que limpar hoje do prédio onde moro, deu vontade de escrever algo aqui no Blog. Lendo os textos de Leo sobre seu novo emprego, me inspirei também pra escrever sobre meus jobs por aqui.

O mais fixo e atual é essa coisa chata e monótona de limpar cozinha, banheiro, varrer e passar pano no corredor. Isso três vezes na semana e que dura por dia entre uma a duas horas, dependendo de quantas pessoas eu encontro pra conversar e de quantos cafés eu tomo durante o serviço. Com esse trabalho pago meu aluguel, o que já é uma ajuda enorme pra quem não é bolsista Capes, Daad, Erasmus... Hoje tenho que fazer serviço dobrado porque uma amiga fez o mesmo pra mim enquanto eu estava viajando.

Encontrei muitos empregos temporários pelo Studentenwerk Berlin. Trabalhei de ajudante de pedreiro, quase 10 horas por dia, mas ainda bem só por duas dias. Quebrando paredes e o piso e levando entulho para fora, num dia que fazia -5°C. Fiz mudança de exposição de arte, 6 pessoas pra pegar uma peça, e ninguém se aguentando com o peso. A exposição não me agradou. Também distribuí panfletos por alguns dias, num deles estava de bicicleta e no meio de uma nevasca. Alguns panfletos foram colocados direto pra reciclar. O melhor de todos pelo Studentenwerk foi o trampo de Papai Noel na noite de Natal. Nesse dia percorri uns 15 Km de bicicleta pelas ruas de Moabit, bairro na zona Norte de Berlim. Foram 10 famílias que visitei vestido de Papai Noel, falando todas aquelas coisas e cantando todas aquelas músicas de Natal. Acho que foi algo bem corajoso da minha parte, pois o Natal na Alemanha é bastante tradicional, isso deu uma responsabilidade muito grande a coisa, apesar de claro, ter muito mais estudante estrangeiro, se bem que, na sua maioria, já morando a mais tempo na Alemanha.

Ainda teve o trampo que consegui através de um amigo para montar as propagandas nos estádios de futebol. Trabalho esse que não era dos mais leves.

Faltou trabalhar como garçom, o emprego clássico. Mas não queria algo fixo, todos os trabalhos que fiz, foi quando já não tinha mais um centavo na conta.

Procurei muito um emprego ou um estágio na minha área quando já tinha melhorado o nível do alemão. Mas infelizmente nada deu certo. Estágio por aqui não é muito fácil de conseguir.

Tudo isso foram experiências incríveis pra mim. Conheci outra realidade, pessoas que nunca conheceria na universidade ou numa festa na casa de um amigo. Isso acrescentou muito pessoalmente.

26.7.10

Wieder zu Hause

Desde domingo passado em Berlim, depois de quase três semanas pelo Leste Europeu, como é bom estar de novo aqui, mesmo que, agora, por tão pouco tempo. Nessa uma semana, já aconteceu tanta coisa, já me despedi de tanta gente, já conheci mais um monte de gente, polícia e ambulância na minha primeira festa de depesdida. Tive meu laptop nessa festa roubado, ontem me devolveram. Inacreditável, jamais esperava que isso fosse possível, minha última esperança era que o seguro cobrisse meu prejuízo, mesmo sendo difícil pois o laptop não estava no meu quarto, mas sim na área comum do prédio.

Fico devendo mais uns textos antes de voltar pro Brasil, mas acredito que não serão muito frequentes. Fico devendo muitas fotos, e essas têm a obrigração de serem, se não frequentes, de uma quantidade bem razoável.

Mas como é bom, nostalgico, triste, feliz, ainda poder dizer Guten Morgen Berlin.

13.7.10

Viajando

Tempo
Comeco a pensar que passo mais tempo vendo mapas, reservando albergues e olhando horarios de onibus e trens na internet do que propriamente viajando.

Calor
Ando me sentido mais Lawrence da Arabia andando pelo Leste Europeu do que quando estive no Saara.

Pessoas
A cada cidade e a cada trecho vou conhecendo muita gente. Algumas vrezes troca-se emails, telefones, outras nao, adeus.

Alcool
O Leste Europeu e o paraiso. Ontem em Bratislava, Staropramen 12% por 1 euro. Em Praga, absinto com Tujon e na Polonia umas das melhores Vodkas do mundo.

Ruas

Quanta pobreza nas ruas de Budapeste, quanta gente morando nas ruas da cidade. Ninguem pede dinheiro, pelo menos ninguem me pediu em dois dias. Todos juntando vasilhames para trocar por dinheiro no supermercado. Assim como nas ruas de Berlim, so que la nao sao tantos como em Budapeste, e olhe que sao muitos. Talvez devido a seguridade social alema que funciona melhor que a Hungara, se e que essa existe. E a seguridade alema funciona? E o que aquelas pessoas estao fazendo morando na ruas?

10.7.10

Kraków-Budapest

Partindo daqui a algumas horas pra Budapeste. Tempo para ler, escrever e tomar um cafe. Cracóvia eh uma cidade impresionante, mistura de cidade historica e medieval com cidade grande. Tem uma cena alternativa que se concentra basicamente no bairro judaico, Kazimierz.


5.7.10

Polska

Ja a alguns dias na Polonia, hoje na quarta cidade, Ilawa. Amanha, provavelmente partindo pra Krakovia, onde devo passar uns dois dias, incluindo um dia em Auschwitz. A Polonia eh um pais otimo para viajar, os trens apesar de pessimos sao super baratos, a cerveja eh uma das melhores e barata e as mulheres sao lindas. Aqui eh como se fosse uma Alemanha nao desenvolvida. Falar alemao aqui eh meio perigoso, ou no minino digno de olhares irritados. O idioma deles eh um trava lingua, mas ando me saindo bem, pelo menos na hora de pedir uma cerveja. Tem o mar baltico, mar doce. A eleicao para presidente foi nesses dias, o da extrema direita nao foi eleito.

30.6.10

Aflito

Falta um dia para eu dizer, "mês que vem estou em Recife". E o peso do "mês que vem" já está sendo foda de suportar sem aflição. Em meio a enorme agonia de se fazer o que falta fazer, deixo Berlim por mais de 10 dias. Open'er Festival na Polônia, então viajo sozinho pelo Leste Europeu, depois volto pra Polônia para uma festa de casamento.

Contando nos dedos as semanas que faltam em Berlim. Uma Berlim ensolarada, 30°C de dia, 20°C a noite. Dias longos, noites quentes e uma nostalgia do caralho.

14.6.10

As fotos que não tirei

Ontem, U-Bahn, troco de metrô na Wittenbergplatz, o lendário U1, ontem indo em sentido Warschauer Strasse. Sento, na minha frente uma turca, de cabeça coberta, pernas cruzadas, sapatos pretos, saia longa abaixo do joelho, na mão uma gramática de alemão com letras enormes e maiúsculas, DEUTSCH. No outro plano, o vidro do metrô com vários Portões de Brandemburgo em miniatura e a cor amarela, típica do metrô de Berlim. Composição que me pareceu uma das mais perfeitas. Tiro a câmera com cuidado, regulo tudo e coloco-a numa posição discreta para que a moça não perceba. Nollendorfplatz, metrô fica cheio, perco a foto.


Hoje no S-Bahn escuto duas brasileiras conversando, não entendo muito coisa, mas só escuto a palavra casamento. No dedo de uma delas, aliança enorme. Foco na aliança, atrás rostos embaçados de pessoas alheias a isso tudo. Estava sem câmera.

Retratos da imigração.

Hin- und...

Acabei de comprar a passagem de volta. Sentimentos confusos, não consigo fazer mais nada hoje, nem dormir. De tantas coisas ainda por fazer, não consigo nesse momento pensar em nada. Deixar Berlim será muito doloroso, e já dói muito agora. Tento me alegrar, pensar nas coisas boas de se voltar, mas não consigo.

6.6.10

We made history

Testify
Bombtrack
People Of The Sun
Know Your Enemy
Bulls On Parade
Township Rebellion
Bullet In The Head
White Riot (The Clash cover)
Guerrilla Radio
Sleep Now In The Fire
Freedom

Encore:
Killing In The Name



Zack: We can change the world!

5.6.10

Faltando um dia

Hoje foi um tipico dia londrino, pelo menos para o que eu chame de tipico por aqui, dia nublado, cinzento, mas de muito calor, passar o dia andando por feiras, por ruas abarrotadas de gente e depois deitar na grama de um parque.

O show eh amanha, em menos de 24 horas. Ainda nao tenho meu ticket, o que me deixa mais tenso. Recebi email ontem da See Tickets dizendo que preciso pegar-lo no local do show. Mas tudo dara certo!


Battle of Xmas. Battle of London!

ps.: Depois escrevo texto decente sobre tudo isso.

4.6.10

Partindo

Indo daqui algumas horas pro Schönefeld pegar o vôo para Londres. Então, amigo me recomenda, não deixe de ir num restaurante indiano em Londres, são os melhores. Como assim? Pois, é verdade, quando alguém chega em Berlim, pergunto logo, já comeu um döner em Berlim? Não? Então vamos no Mustafa! Döner é coisa vinda lá da Turquia, dizem os turcos. Outros, que não turcos, dizem ser coisa de Berlim, lá de Kreuzberg. Essas cidades do mundo parecem perder suas identidades culturais devido a isso tudo, ou então, isso passa a fazer das suas identidades.

Mas bom, quem quer saber disso hoje?! Fazendo as malas, Beatsteaks amanhã na ULU e Rage no domingo no Finsbury Park!

Nunca me vi tão tenso na vida. aiaiai...

30.5.10

Contagem regressiva

Falta exatamente uma semana para o show de Rage Against the Machine em Londres. Pessoas na europa toda se preparam para o show, umas dao carona a outras, hospedagem na brodagem, muita expectativa. 40 mil pessoas irao lotar o Finsbury Park no dia 06 de junho a partir das 14 horas.
No dia 03 eles se apresentam aqui na Alemanha no Rock am Ring, sera o primeiro show da pequena turne europeia.

Ich kann kaum erwarten!

28.5.10

Bicicleta

Mulheres arrumadas, de saia, meia-calça e sapato alto. Assim, lindas, indo para o trabalho pela manhã. Sinal fechou, hora de retocar a maquilagem. Não ouse andar na faixa vermelha que elas podem lhe atropelar, mulheres assassinas. 

27.5.10

Bomba

Confiram a notícia de hoje em Berlim. Uma bomba!




Agencia EFE
 
Uma bomba da Segunda Guerra Mundial foi encontrada na noite desta quarta-feira (26) na região de Berlim, e obrigou a retirada de cerca de nove mil pessoas que estavam em imóveis próximos.
O artefato, que pesa aproximadamente 500 quilos, é de fabricação americana, e foi encontrado por funcionários de obras de canalização no distrito de Zehlendorf.
Durante mais de seis horas, as forças de segurança esvaziaram todos os edifícios em um raio de 500 metros. A maior parte dos moradores se abrigou em casas de familiares e amigos, mas cerca de mil deles foram atendidos em uma estrutura provisória.
Por ano, a Polícia de Berlim recolhe e desativa entre 25 e 40 toneladas de bombas, granadas e outros tipos de munição e armamento da Segunda Guerra que ficaram enterrados no subsolo da cidade.
O Senado de Berlim acredita que o subsolo da capital alemã tem ainda cerca de três mil bombas aéreas de 250 quilos cada.


Bomba da Segunda Guerra encontrada em Berlim


25.5.10

Dorf

É incrível como Berlim pode parecer uma cidade de interior, oferecendo um sossego que é difícil de imaginar que se possa ter quando se mora numa cidade grande. Ontem foi um dia se simplesmente andar em busca de nada. Ruas vazias, cobertas de folhas e flores que haviam acabado de cair, cheiro de terra molhada, parques, pracas, floresta, Grünewald, montanha, Teufelsberg, pôr-do-sol com fábricas e nuvens brancas ao fundo. A noite cai, a cidade se ilumina, logo à frente a Funkturm, a torre de rádio, ao fundo a Fernsehturm, e toda a cidade brilhando.

Studentenwohnheim

O lugar onde vivo.

Queria deixar pra escrever esse texto quando já estivesse no Brasil, poderia escrever um texto mais pessoal, com a "proteção" de não estar mais aqui. Mas não, quero escrever o texto no presente, e não no passado.

A procura

Vim pra Berlim quase na roubada, sem saber direito o que ia se passar. O plano era conseguir de alguma forma passar um ano. Mas só tinha dinheiro pra 6 apertadíssimos meses, sem direito a fazer viagens e ainda assim na dúvida se o que eu tinha juntado no Brasil seria suficiente. Também por isso, no começo, fui morar com minha tia, que já mora a mais de 20 anos em Berlim. Mas lá não podia ficar muito tempo, e também, claro, precisava do meu lugar. Com um mês, as coisas se resolveram e pude respirar um pouco aliviado, conseguiria passar um ano em Berlim. Mas até então, nada de apartamento, todos os Wohnheim's (residência de estudantes) estavam lotados. Só achava vaga no extremo leste da cidade, muito longe da TU-Berlin e de acesso meio complicado. Minhas idas ao leste Berlim atrás de quarto eram sempre cômicas. Não houve uma vez que eu não tenha me perdido. Uma vez fui atrás de um Wohnheim numa rua de nome tal, a qual não foi difícil de achar. O problema é que a rua, depois de um tempo passou a virar à esquerda e à direita, virou um enorme quarteirão e, inclusive fui parar num cruzamento onde a mesma rua de cruzava. Quase um conto Kafkiano. Também procurei vagas em WG's (Wohnungsgemeinschaft), apartamentos que a galera divide entre si. Mas com um orçamento de no máximo 200 Euros pra pagar aluguel com todos os custos extras, não estava achado muita coisa que prestasse. Fui parar em cada lugar... Achei um quarto em Neukölln, numa casa com 5 meninas, por 170  euros. Perfeito, não? Claro, se o quarto não fosse da largura de um corredor. Também fui parar em Wedding, onde tinha um quarto por 200 euros. Sala era legal, tudo grafitado, parecia uma ocupação, os moradores também pareciam ser gente boa. Mas o quarto era sem móveis e ainda tinha os custos extras por fora. Também não deu.

Enfim achei o quarto na Danckelmannstrasse, perto da TU, 206 euros, ainda viável. Falei que sim, reserva aí que vou sacar o dinheiro. Não posso reservar e tamos fechando agora. Ok, volto amanhã. Amanhã é sexta, meu jovem, estará fechado. Ah sim, volto segunda. Na segunda tive que resolver umas coisas do visto, e perdi a hora. Na terça, enfim, fui lá, com toda a documentação e dinheiro. Então Herr Braun me fala que o quarto já foi alugado. Como? Sim, acabei de alugá-lo. Então, volto eu com a minha procura. Eu já imaginando me mudando no primeiro de maio, levando minha mala entre carros pegando fogo, pedras e garrafas pelo chão. Mas não dessa vez. Então achei um quarto perto de Ostkreuz por dois meses. Ótimo. Decidi ir de novo falar com o Herr Braun pra ver se ele já teria algo daqui a dois meses. Ele fala que não, que tem algo pra agora. O cara que tinha alugado o quarto, havia desistido. Fui correndo em casa pegar tudo necessário e no mesmo dia peguei a chave.

O quarto

Nem tinha olhado o quarto antes, a não ser o quarto de um amigo que morava aqui. Não esperando lá grande coisa, o quarto podia ser diferente do meu amigo. Mas quando entrei, me surpreendi, quarto enorme. Com uma pia e toda a mobília básica. No outro dia fiz a mudança, ou seja uma mala e alguns livros numa caixa.

Desde então, já passou muita gente pelo quarto. Nove pessoas, além de mim, foi o recorde de quantidade de pessoas que dormiram aqui. Algumas festas, conversas pela madrugada, quantidades industrias de vinho e cerveja já foram bebidas aqui, violão, Brasil, o mundo. Noites sem dormir, alguns dias sem fazer nada. Esse quarto carrega uma energia forte, por vezes talvez carregada. No começo de maio, fez um ano que estou aqui, e devia sim, fazer uma festa. Vai ser difícil deixar esse quarto, afinal é o meu quarto. Depois vem alguma outra pessoa, estudante, sei lá de onde e vai habitar o meu lugar. É foda. Mas sim, acho que terá que conviver com essa energia por um bom tempo. Estou bolando um jeito de deixar minha marca por aqui, a qual ninguém possa tirar. Pensei até em deixar a caução pro Studentwerk e fazer uma arte aqui. Mas não, preciso da caução.

Vida coletiva

Dividir cozinha com mais 11 pessoas pode parecer impossível e um grande problema, mas é uma das melhores partes de se viver num Wohnheim. Dá pra aprender muita coisa quando se tem 10 nacionalidades diferentes se trombando todo dia na cozinha. Conversas absurdas, choques culturais, religião. O problema é dividir o banheiro. Acho meio constrangedor essa coisa de privada coletiva. É como um banheiro público, só que são seus vizinhos. Mas também dá pra levar a situacao numa boa.

Quase não se faz nada sozinho, café da manhã, almoço, jantar, tomar banho conversando, passar o dia sem fazer nada, assistir um filme no bar lá embaixo, pra tudo se tem (quase sempre) ótimas companhias.

Quem manda é gente!

Toda a organização é feita por nós, algumas pessoas têm cargos na organização da coisa, mas todos podem teoreticamente participar das decisões, mas é, isso nem sempre funciona muito bem. A limpeza também é feita por nós, eu sou o responsável pelo 2° andar, corredor vermelho. Coisa que parece funcionar bem melhor que nos outros Wohnheims, onde são contratadas pessoas para fazer esse serviço, aqui é relativamente bem limpo.

Cheiros

Cheiro de maconha e sexo, é claro, mas em pequenas doses, o que predomina mesmo é o cheiro de comida asiática.

Kneipe

O bar lá embaixo oferece festinhas caretas uma vez por semana, mas em dias que não se está lá muito a fim da sair de casa pode ser bem divertido. Lá também rola uma espécie de cineclube. Temos um novo projetor, inclusive!



Vou sentir muita falta desse lugar. Muita falta de chegar em casa às duas da manhã e encontrar gente bebendo na cozinha, de acordar domingo às 3 da tarde e encontrar um ou outro que chega também ressacado para tomar café da manhã, de sentar na calçada na frente do prédio e passar a noite e madrugada bebendo sem pressa pra nada, das conversas, das pessoas, dos jantares e almocos coletivos, das guerras ideológicas grudadas na parede do elevador, dos cheiros (que nao os de comida asiática), dos bilhetes grudados com mensagens "educativas" por todo o prédio, sobretudo no banheiro,  de passar mais de uma hora tomando café da manha e depois ainda voltar pra cama, dos sorrisos, das situacoes, dos barulhos.



Texto ainda precisa ser complementado.

22.5.10

Ignácio

Esse cara é realmente foda. Estou relendo O Verde Violentou o Muro. Livro lindo, escrito por um cara que realmente viveu essa cidade, toda essa loucura, insanidade e sossego. Como voltei a ler o livro, voltarei a escrever. Uma coisa está intimamente ligada a outra. E nessa minha releitura, me deparo com partes realmente fantásticas. Cito uma delas agora:

[...]
"Lugares sempre me interessaram, preciso deles, tenho os meus, particulares, secretos. A casa de Duras, junto a um bosque. "Cada vez que estou aqui tenho vontade de filmar. Isto pode acontecer, lugares me dão vontade de filmar." Transponho: há lugares onde tenho vontade de escrever. E esta foi minha identificação com Berlim. Uma química entre luz-árvores-ruas largas-sol-silêncio provincial-possibilidade de isolamento-participação total: pronto, a cabeça transformada, o clima propício. Escrever, andar, ler, não fazer nada: é Berlim. Reencontro Duras: "Se eu fosse suficientemente forte para não fazer coisa alguma, não faria. Justamente por não possuir esta força de não fazer nada é que faço filmes. Ainda: "O que de mais importante já me aconteceu foi escrever. O que me espanta é que nem todo mundo escreva. Tenho uma admiração secreta pelas pessoas que não escrevem, e também, bem entendido, pelos que não fazem filmes.""


Transponho isso também e coloco tudo em relação a fotografia. Nunca vi cidade tão fotogênica como Berlim. Ela adora ser fotografada, de vários ângulos. Se despe e toda nua se dá por inteira ao homem atrás da câmera. 

10.5.10

9.5.10

Tempelhof


Tempelhof für Alle! - Berlin 08.05.2010
Upload feito originalmente por PM_C
Da série textos que não podem deixar de ser escritos.

Sábado, 08 de maio. Abertura do maior parque de Berlim, onde fora o Aeroporto Tempelhof. Capítulo importante na recente história da cidade.

Desde 2008 fechado, o Tempelhof é tema constante em Berlim. Depois de várias manifestações para que o espaço pudesse ser utilizado pelos moradores como parque, o projeto foi aprovado. Mas não agradou muito, o parque é todo cercado, tem segurança particular e horário de funcionamento. Solução meio estranha, ainda mais por se tratar de Berlim, realmente não combina em nada com a cidade. Portões e muros parecem incomodar muito mais por aqui, de maneira que só um berlinense possa explicar.

Eu não sei quais são as razões de se fazer um parque dessa maneira, mas parece ter haver com os planos futuros de construções "sustentáveis". Especulação imobiliária tinha que dá as caras na história.

Por isso, centenas de pessoas foram reinvidicar um parque aberto, ou seja, um Volkspark. Ocuparam o espaço do parque e se recusaram a deixar o local na hora do fechamento. Não fiquei pra ver como tudo isso terminou, mas a manifestação não resistiu por muito tempo, até agora sabe-se de 7 pessoas presas.

O Tempelhof foi por muito tempo o maior aeroporto do mundo, o projeto de expansão é do tempo nazista. É uma parte importantíssima da história de cidade, a ponte aérea de Berlim, onde aviões americanos despejaram toneladas de alimentos e meios de subsistência no fim da Segunda Guerra Mundial.

Foto: PM_Cheung

Wiki: http://en.wikipedia.org/wiki/Berlin_Tempelhof_Airport

Chamado para o ato: http://tempelhof.blogsport.de/images/Aufrufenglisch.pdf

6.5.10

1. Mai


Kotti
Upload feito originalmente por brecht [Albrecht Mariz]
Tem muitos textos que quero escrever, mas vou deixando pra depois e acabam ficando sem sentido, perdidos no tempo. Queria muito ter escrito um texto sobre a Berlinale e sobre o InterfilmBerlin, por exemplo, mas acho que agora já é tarde demais. O primeiro de maio, nao. Esse dia nao pode passar em branco aqui no blog.

Um sábado meio nublado, Kottbusser Tor, Berlim, todos querem estar lá, a maioria pela festa, a MyFest. Festa de rua, multicolorida, as pessoas mais loucas, vários shows acontecendo ao mesmo tempo, DJs tocando na rua, clima de carnaval. Paralelo a isso, a partir das 18 horas, a manifestacao, BlackBlock, Antifa, anarcos, e claro, muita polícia. Esse ano nao acompanhei do comeco o protesto, tava esperando a coisa ficar mais violenta, com fogo, bombas e garrafas para fazer algumas fotos, mas esse ano a coisa foi bem mais tranquila. Só pra ter uma ideia, o número de policiais feridos caiu, do ano passado pra cá, de 497 para 97. (Se bem que isso pode nao dizer nada.) Mas o que se viu foi realmente bem menos fogo, bem menos garrafas e pedras voando. O número do contigente de policiais foi aumentado, foi proibida a venda de cerveja em garrafa, o famoso palco que ficava direto na estacao foi removido e a polícia bloqueiou as ruas chaves dos confrotos, ninguém passava livremente de um lado pro outro da Kotti. Isso tudo impediu que as coisas se tornassem incontroláveis como no ano passado. Uma coisa boa foi o fato de a manifestacao nao passar mais pela MyFest, nao precisando correr de polícia e desviar de garrafas voadoras enquanto se escutava Bob Marley e nem precisando entrar em roda punk com polícia no meio.

Achei a mudanca positiva, a MyFest deixou de ser tensa como fora. Mas se bem que, aquele ambiente anárquico e as cenas que eu vi no ano passado fizeram falta. Só podiam liberar o Spätis de venderem cerveja em lata, porque foi dificil achar cerveja por menos que 2,50.

Ainda fui atrás de confrontos, encontrei pouca coisa. Alguns latoes de lixo pegando fogo, policia apagando, garrafas voando, todo mundo correndo prum lado, depois correndo pro outro, estamos cercados! Muita gente sendo presa, papo cabeca com a polícia, mas eu só quero ir pra casa, deixe eu passar pra Kotti, nao tenho direito de ir e vir? Sim, claro, vá até o final dessa rua, pegue à esquerda, depois de novo à esquerda e ande até o fim da rua. Aqui voce nao passa. Na ja... Tudo muito disperso, cadê a Antifa, cadê o BlackBlock?

Como já era noite foi dificil fazer boas fotos, ainda com chuva fina, manifestacao completamente dispersa, difícil. Mas ainda fiquei lá correndo de um lado pro outro, tentando fazer algo que prestasse, sem sucesso. É muita estranha (e boa) a sensacao de estar no meio de um confronto. Só se pensa, que porra eu to fazendo aqui? Mas é quase impossível deixar o lugar.

Um dos melhores dias em Berlim.

4.5.10

Rápidos pensamentos

Como queria escrever mais vezes por aqui, tem tanta coisa pra falar. Muitas vezes, sim, besteira, mas que, ok, faz parte. Quando se tem que estudar e/ou trabalhar entao, que dá um vontade enorme de escrever, é minha fuga por alguns minutos. E agora, que estou nessa situacao, escrevo algo curto, sem falar muito aqui de tudo que eu queria falar. 

O blog terá que ser atualizado do Brasil, me dei conta que nao conseguirei escrever um ano e meio de tantas experiencias em apenas um ano e meio. Preciso de bem mais tempo pra escrever sobre tudo isso aqui. Podia, sim, parar mais vezes pra escrever, mas nao, agora é primavera, é maio, pouca roupa, nao resisto a isso tudo. Sempre esse enorme trade-off, e como os trade-offs aqui sao enormes. Mas como será difícil escrever sobre essas experiencias no futuro, escrevendo em pretérito. Na verdade, nao sei se vou conseguir, todo mundo me fala da depressao pós-Berlim, acho que sofrerei dela. Deixar essa cidade nao deve ser nada fácil. Jeito que tem é arrumar maneiras de voltar. E sim, irei voltar. Vou deixar minha bicicleta por aqui, poderei dizer que sim, tenho uma posse em Berlim. As pessoas se moverao nas suas incansáveis buscas, algumas ficarao, e eu sim, repito, voltarei. Nesses últimos tempos, procurando fazer tudo o que ainda nao fiz e tempos de uma nostalgia do presente. Como vou sentir falta dessa rotina daqui, como vou sentir falta das pessoas, do meus lugares preferidos, da cidade em si.

Já estou tendo sintomas pré-Brasil, fiz seguro contra roubo pra câmera, outro dia atravessei a rua porque vi um grupo suspeito, e voltei com minha mania de verificar se fechei a porta no mínimo três vezes antes de sair de casa. Logo menos, estou eu, usando 4 chaves pra entrar em casa. Talvez mais, soube que fizeram novo muro, com novo portao, possa ser até com cerca elétrica, os moradores devem estar orgulhosos e se sentindo super seguros. Falsa liberdade essa que a gente tem, se cercando e se enjaulando. Mas é, sao realidades diferentes, se nao tem muro, levam tudo que a gente tem em casa. Já em Berlim, ninguém quer mais saber de muro. Bom, assim fica fácil dizer onde prefiro estar.

30.4.10

Expectativa

E claro, maio é um mês de muita expectativa.

Do site do Rage:

Breaking News 4/30/10

An official annoucement will be made shortly regarding the line up for The Rage Factor Victory Party on June 6th in Finsbury Park.
 
Do site da See Tickets:
Rage Against The Machine - Finsbury Park - Tickets will be dispatched in the last week of May.
 
 
E mais recente, mas não menos importante, Hand in Hand?

Mai Kommt!

Mês de dias quentes, de pernas a mostra, pouca roupa. Saias, vestidos, pés descalços. Nadar sem roupa, passar a noite num lago no meio do nada vendo os aviões pousando ao fundo, fazer fogueira. Bocas quentes, sorrisos, rolar na grama. Quantidades absurdas de cerveja, churrascos constantes, rave até a polícia chegar. Todo mundo nu, praia, FKK. Estudar deitado na grama, levar a bandeja do Mensa pra grama, as reuniões do projeto serão então, na grama.

Mês delicioso, mês que irá passar voando, mês de aproveitar como nunca os dias longos.

Mês que começa amanhã, com chave de ouro, o primeiro de maio em Berlim. E que na verdade já começa hoje de noite com fogueira e vinho no dia das bruxas.

21.4.10

A cidade

Como dito, o que faz uma cidade são as pessoas. Se temos as pessoas que gostamos do lado, tudo se mostra belo, com mais vida. Sem essas pessoas, a cidade pode não passar de um monte de ruas, bares e anônimos. O que acontece quando se destrói essa relação com as pessoas? O que fica então?

15.4.10

Tudo ou nada

Berlim pode ser tudo, mas também pode nao ser nada. Pode representar quase todos os povos do mundo, afinal 187 nacionalidades estao representadas na cidade. Mas será que a cidade as representa? É uma cidade alema, aliás, a capital, mas que nao tem lá muita coisa de Alemanha. Sim, claro, tem muitos alemaes por aqui, a língua falada é o alemao, embora se diferencie um pouco, o que é normal, e muito embora possa-se viver a vida toda em Berlim sem falar alemao. Claro, é bom aprender o básico pra nao morrer de fome. Um döner sem cebola e sem molho picante é o básico da língua. Também existe, é claro, o distaciamento, o medo de toques sem permissao, os olhares que quase nunca lhe vêm, o pudor de nao olhar pra trás pra dar uma conferida quando passa aquela louraca de cintura fina e olhos claros.

Berlim concentra inúmeras atividades culturais, mas ao mesmo tempo parece nao ter uma, digamos, cultura própria, que se pudesse dizer talvez, folclórica, como pessoas com roupas tradicionais e dancinhas engracadas como vimos na Oktoberfest em Munique. Claro, isso nao quer dizer que a cidade nao tenha cultura, como sempre fala uma amiga minha. Nas nossas intermináveis discussoes a respeito do tema, ela sempre fala que aqui nao tem cultura, nao tem nada típico. Eu sempre falo que sim, que a bossa nova que a gente escuta na Kotti, o jazz da Mehringdamm, e claro as mais diversas cancoes da música pop, que vao dos anos 50 aos atuais, nos domingos do Mauerpark, sao sim cultura, e sao sim, Made in Berlin. Uma coisa é tradicao, outra coisa é cultura. Ou nao? Mas ninguem nunca "vence" os debates. Sempre chega-se a uma questao dificil de responder sem a ajuda de estatísticas. Cada qual fala que vai pesquisar sobre o tema, mas no outro dia ninguém toca no assunto até que surge de novo a famosa frase, Berlim nao tem cultura. E comecamos tudo de novo, sem termos pesquisado nada no dia anterior e sem nunca dar fim ao tema. Estou me dedicando, já ando lendo a um tempo um relatório sobre o tema e irei de vencer esse debate ideológico estando bem fundamentado. Essa minha amiga às vezes se decepciona muito com os lugares famosos da cena da cidade, talvez por serem tao sujos e tao loucos. Pra ela a cidade nao é lá muita coisa, diz que falta glamour à Berlim. Já esta frase, adoro escutar, Berlim definitivamente nao tem glamour. Talvez sim, um porno-glamour ou um punk-glamour, ou sei lá, um porra-louca-glamour. Já pra mim, que tá certo, nao conheco lá muita coisa da mundo, aliás quase nada, Berlim é tudo. É tudo por agregar tantas coisas numa cidade, por dar tantas possibilidades, tantas novidades por dia, tantas atividades culturais que é impossível acompanhar. E além de tudo, por dar tanta liberdade ao indivíduo de fazer o que quiser, a cidade nao lhe se sufoca. Cidade inspiradora, musa, suja, mas nao é puta, nao se vende fácil. Nao é fácil passar a fazer parte da cidade, e muitas vezes me pergunto se já faço parte.

Me deu vontade de escrever isso porque hoje quando vinha pra universidade, uma senhora me perguntou se eu era daqui. Falei sem pensar que sim. Ela me perguntou onde podia achar uma loja de esportes por perto. Falei pra ela andar até o Zoo, pegar a direita e lá estaria a Karstadt Sports e à frente, outra loja especializada. Nao sei porque, ela soltou que nao conseguiria viver aqui. Disse ser demais informacao pra ela, coisas demais, e tudo, tudo espalhado. Aliás, onde é o centro de Berlim? Engracado que ela deve ter acreditado que eu era realmente daqui e deve estar pensando agora, mas que sotaque estranho têm esses berlinenses.

14.4.10

Morte e Vida Severina

Nesse tempo que estou aqui, quase não me deparei diretamente com a morte. Nunca vi um corpo estirado num cruzamento, nunca vi sangue escorrendo pela calçada depois de um tiroteio, nunca soube de ninguém que morreu por conta de dívida de drogas, nunca vi nenhuma briga que fosse acabar em morte. Claro, existem casos. Vez ou outra sai notícia nos jornais de algum acidente ou, muito raramente, de um assassinato. Por isso, ando me assustando cada vez mais com notícias, relatos e imagens do Brasil. Acontecem tantos casos, que isso parece ser comum.


Amiga alemã esteve no Peru e comentou justamente isso, como é comum o contato com a morte. Relatou o caso de um homem que tentando atravessar um rio, morrera afogado. Depois da tragédia, curiosos e certa indiferença.

10.4.10

Balkan Beats

Es wird  Schweiß von der Decke regnen, Menschen werden sich in den Armen liegen, Mädchen werden springen und Jungs sich die Kleider vom Leib reißen. Kollektive Ekstase ist vorprogrammiert. Disko Partizani, und die Nacht wird niemals zu Ende gehen.

[030]

Balkan Beats. Jeden 2. Samstag. Lido, Berlin. 

29.3.10

Dark Room

O que é aquilo ali? Nao sei, vamos ver.


Pra entrar é preciso se abaixar pra nao bater a cabeca no teto. Na parede uma grade, do que antes fora uma fábrica da DDR, treme com a música eletrônica, dando a impressao de alta voltagem e perigo eminente e iminente. Nao se vê nada lá dentro, a nao ser quando alguma luz da pista de danca invande o lugar, descobrindo penumbras de homens que se masturbam e fazem sexo com outros homens. Andando mais pra dentro, trombando com casais e homens à procura de sexo, a música vai ficando distorcida, com eco. Vemos correntes, cama sado-maso, um trio fazendo sexo. É um flerte com o surreal, com o submundo. Vide o ínicio de Irrerverssível, o Rectrum, e troque a luz vermelha por alguns flashes momentâneos de luz azul e branca.





Berghain / PanoramaBar, Berlin.

20.3.10

Sábado

É manhã, os ônibus de dois andares não param de passar cheios de turistas, que também nos observam através das enormes janelas da biblioteca. Dia chuvoso, mas de uma chuva fina que quase não molha. Na cabeça, ficou a música clássica que alguém escutava no corredor bem cedo. Na mesa, papéis e mais papéis, muitos com letras vermelhas, correções de um amigo dos textos que eu havia escrito. E que desconfortável é escrever numa língua que não se domina. Mas é, assim se aprende. Na minha frente, mulheres lindas, chineses com suas tecnologias e alguns tipos estranhos que vivem na biblioteca. 

19.3.10

Ônibus M45

Mais uma vez voltando de ônibus, pego-o no terminal, turco pede para o motorista desligar o aquecedor, está calor, chefe - fala, e tem razão, noite quente de início de primavera, motorista resmunga algo e faz o que o homem pede. Vou observando melhor o lugar onde já vivo há quase um ano, tendo algumas idéias pra fotos na semana que vem. Na verdade, preciso explorar melhor o bairro onde moro, Charlottenburg. Sempre o vi (e ainda vejo) com certo preconceito, por ser um bairro de pessoas mais adinheiradas, ruas muito limpas, quase não há grafites, nem sinal de ocupações, nem sinal de protestos e carros pegando fogo. Não se parece muito com Berlim. Bairro burguês, que por ser burguês não tem muita graça. Por isso sempre pego o metrô e atravesso a cidade, Kreuzberg, Friedrichhain, Neukölln, Prenzlauer Berg. Mas quando se observa melhor e com outros olhos, sem preconceitos, as coisas se mostram diferentes. Nesses dias, descobri do ônibus vários sebos, lojas de usados, cafés, bares e lanchonetes que parecem ser interessantes. A loja de sorvete italiano do outro lado da rua voltou hoje a funcionar e eu me dei conta que nunca fui lá. É certo que não há mesmo muita vida nas ruas, tudo muito tranquilo, mas há sim muito o que se ver.

18.3.10

Ônibus

Sempre é mais interessante voltar da faculdade de ônibus. É possível ver as ruas, prédios, pessoas. No metrô não se vê quase nada, se bem que com alguma sorte sentam pessoas interessantes na sua frente. Mas na linha U2 sentido Ruhleben, geralmente não há muito o que se ver, e depois das 22:30, nesse sentido, o vagão geralmente está meio vazio. Linha U1 sentido outro planeta, sim é algo bem interessante.

Mas voltando. Do segundo andar do ônibus, com a cabeça cheia, sentimento não muito agradável de um dia que não rendeu tanto quanto deveria, pensando um monte de besteira, sabendo que hoje ninguém me espera, sozinho. Na mão e no braço direito vou escrevendo tudo que me vem à cabeça. Pelo vidro vejo as pessoas distantes na rua. No vidro vejo as pessoas dentro do ônibus refletidas, um pouco borradas, distorcidas. Pessoas que quebram a barreira do vidro e sentam-se ao meu lado. Todavia, continuo observando-as pelo vidro.  Parada, desce.

A noite

A noite cai, pego minha xícara de café, sento na calçada. Vendo as formas geométricas das construções, as pessoas andam entre as coisas e se misturam às luzes cintilantes. Conversas em diferentes idiomas e gargalhadas aguçam os ouvidos. Há cheiros e um pouco de fumaça no ar. Tudo isso se mistura e dá vida à cidade. É preciso apenas uma brisa suave, que toca o rosto, para deixar de ser observador e passar a fazer parte de tudo isso.

Primavera

As pessoas todas na rua, almoçando, estiradas na grama, tomando sorvete, sorrindo. O sol queima de leve o rosto, recarregando as energias. Os lugares vazios nos interiores, não há mais mesas para sentar do lado de fora. O dia que começa a ficar mais comprido. As cores que começam tímidas a aparecer e logo explodem, como os beijos, beijos de primavera. Ah, a primavera.

3.3.10

Derrière des forêts cosmopolites

Hoje faz um ano que estou em Berlim. Um ano que passou na velocidade de uma semana, mas quando páro para lembrar de tudo, são como lembranças de 10 anos. Eu me sinto como em casa. E aqui na verdade passou a ser minha cidade, minha segunda cidade. E pensar que escolhi isso, de certa forma, numa sala de espera de um consultório. Conheci um jornalista da BBC que tava conversando com um senhor do lado sobre viagens pelo mundo. Os dois conversavam sobre as cidades que eles mais se identificavam sem ser a qual eles haviam nascido. O jornalista disse ser Londres a cidade da vida dele, pois havia morado lá por muito tempo e construído toda a carreira dele por lá. O senhor disse ser Veneza, viagem com a mulher, lembranças de dias felizes e ensolarados. E eu não pude dizer nada, só havia morado em Recife. Mas disse pra mim mesmo, será Berlim. E por quê...?

Dia para reflexão? Que nada. Tantas despedidas hoje... vai ser difícil. Mas me alegra saber que amanhã encontro um grande amigo em Estocolmo. É muito bom saber que nem todo adeus é para sempre.

Bärlein, 03 de março de 2010.

24.2.10

1984


Orwell Perspektive
Upload feito originalmente por brecht [Albrecht Mariz]
Who controls the past now controls the future

Who controls the present now controls the past

Who controls the past now controls the future

Who controls the present now?

17.2.10

#Ratmxmasgig@london

Depois de duas horas no site da seetickets tentando, consegui o ingresso para o show de Londres!!! Em algumas horas irei receber o email de confirmação. Algumas pessoas postaram no Twitter e Facebook que já o receberam. Em 3 horas todos os tickets se esgotaram.  Eu ainda não estou acreditando, mas tá a mensagem na tela:

Thanks, A MARIZ for ordering
You have booked
1 GENERAL ADMISSION ticket(s)
Your tickets will posted to you free by first class post to the address you registered.

E no final:

Thank you for booking online - enjoy the show!

Esperando só o email pra poder gritar mais alto. hehe

YEAH!

14.2.10

RAGE AGAINST THE MACHINE

06th JUNE 2010 - LONDON

Do site do Rage:

Breaking News 02/11/10: THE RAGE FACTOR

The VICTORY PARTY TO END ALL PARTIES RAGE AGAINST THE MACHINE ANNOUNCE FREE GIG "A historic grassroots rebellion made our song 'Killing in the Name' the number one Christmas single of 2009. The people of the UK toppled the X-Factor giant, raised a great deal of money for homeless charities, and shocked the world. As a thankyou to our UK fans and freedom fighters we promised to play a free show. Well...here we come. June 6th, Finsbury Park, the celebration/party/revolution is ON!!" - Tom Morello The excitement of this announcement is huge, a special Rage Against the Machine concert will be taking place at Finsbury Park in London on Sunday the 6th June. The gig has come about off the back of the band defeating the predictable tradition of singer wins X Factor, singer’s debut single goes straight into becoming the Christmas No1. When Rage Against the Machine secured 2009’s Christmas number 1 over Joe McElderry, Rage Against The Machine committed themselves to play a free gig in appreciation to everyone in the UK who supported the RAGE. Well, they've kept their promise! The Rage Factor is going to be a massive gig with a full supporting bill of artists to be announced. For your chance to be a part of The Rage Factor and see this monumental performance of Rage Against the Machine go to www.theragefactor.co.uk where you will find out how to register for FREE tickets. Registration will be open from NOW until midnight on Sunday 14th February. Once registered, tickets will be released on a rolling lottery basis from 9.00am Wednesday 17th. There is a maximum of two tickets per person available and registration does not guarantee a ticket. For further information, including review tickets please contact: Matt Reynolds Savage Gringo Publicity 07527835209 mattreynolds1@me.com
 
ps.: Não, não é mentira. Mas não, eu não acredito.
ps2.: Espero que eu ganhe um ticket. Energias positivas!
ps3.: Pra quem tá na europa. Não percam tempo! Até meia-noite pra se registrar no site.

10.2.10

Carnaval?

Faltando uma semana para o carnaval, Recife deve está pegando fogo. Enquanto isso, Berlim continua congelada. Nao pára de nevar na cidade e a temperatura nao sai dos negativos. Talvez por isso (também), nao estou nem ligando que vou perder o melhor carnaval do mundo. Nem penso sobre, nao faz parte da minha realidade no momento. Por aqui terá em alguns clubes tentativas de festejar o carnaval. Vai ter frevo em Kreuzberg, samba em Mitte, mas nem me animo. Acho inclusive que irao conseguir reproduzir bem nosso carnaval, tanto brasileiro que tem aqui. Nao estranharia se aparecesse alguém gritando, Oh o sucesso, oh o sucesso! Como seria isso em alemao? haha

8.2.10

Berlinale - Vorverkauf

A Berlinale só começa na sexta-feira, mas a guerra por tickets começou hoje pela manhã. Cheguei hoje no Arcaden da Postdamer Platz pelas nove da manhã e a fila já era enorme. Os tickets mais disputados do dia eram pra Metropolis e pra sessão com o vencedor do jurí popular para o Panorama. Bilhetes vendidos em alguns minutos. Na fila pessoas com colchões, cestinhas com café da manhã, vinho, cerveja. Mochileiros, senhoras, estudantes, vi até um punk, tinha um cachorro na fila. Alguns haviam chegado nas primeiras horas do dia. Fotos, câmeras, reportagens. Alemão que conheci na fila se recusa a dar entrevista para a Bild, revista sensacionalista. Não concordo com a ideologia da revista, fala.
Havia feito minha programação inicial na fila com muito sacrifício - difícil encaixar tanta coisa, entretanto, quando restando 10 pessoas na minha frente, descubro que ainda não posso comprar tickets para grande parte da programação. Para esses tickets ainda não disponíveis, é preciso comprar três dias antes da sessão. Imagine como será para comprar bilhete pra sessão de gala do novo filme de Scorsese, com di Caprio no elenco. Como tive que refazer o plano em alguns minutos, acabei comprando apenas três ingressos.Os quais foram para Die Fremde, filme que faz parte do Panorama, aborda o tema da imigração na Alemanha e tem Sibel Kekilli no elenco; The Ghost Writer, novo filme de Polanski; e também para um debate sobre o futuro do cinema. Economia, políticas, aspectos sociológicos e arquitetônicos.
Pra quem for tentar comprar ingresso, bom anotar o número de cada sessão num papel e passar para a pessoa do caixa. Passar junto sua carteira de estudante para um eventual ticket reduzido. Outra dica é, para os filmes em competição no Berlinale Palast é possível comprar ingressos pela metade do preço meia hora antes da sessão. Dependendo do filme, possa ser que sobre ingresso no dia. Ingressos entre 7 e 11 euros. Mês de Berlinale é mês sem comer direito. Economizar na feira para ver filmes. Viva a batata, o macarrão e cerveja de 30 centavos!

7.2.10

Sprache

Como é difícil explicar coisas em alemão que você não consegue nem sequer explicar direito em português. Como é explicar ser ateu e ainda assim acreditar em algo que possa ser visto como sobrenatural, energias, fluídos, vibrações? Assim me chamam de teísta. E eu lá creio em nada. Não? Como é explicar que desprezo qualquer religião e mesmo assim respeito (ou pelo menos tento respeitar) todas? Em português eu consigo diferenciar, e ainda comparar. Em alemão vem tudo embararalhado. Diferenciar, comparar? Antropofagia. Quase uma hora pra explicar do que se tratava. Manguebeat. Quem entende um movimento que fala de homens e caraguejos em processo canibalesco? Você está louco, me falam.Tropicália. Ditadura. Cone Sul. Tribos indigénas. Toda essa merda de violência e desigualdade do nosso país. Tenho a impressão que não entedem o que quero expôr. E isso é péssimo. Passa a impressão que não faço idéia do que estou falando, - e às vezes nem faço, mas de qualquer modo tudo está ainda em construção. Mas não, parece que não tenho nada pra construir, acrescentar. Discutir relacionamento, pedir desculpas por alguma furada, explicar as minhas escolhas e minhas não-escolhas. Tudo isso ainda está longe de ser encarado do mesmo jeito que encaro na minha língua. Me frusta bastante. Já quando se trata de absolver algo, flui melhor. Mas é difícil pegar no ar. Demoro a entender novas formas de repressão dentro da lei alemã, migração na Alemanha, anti-semitismo. Muito o que estudar, e viver.

3.2.10

11 minutos

11 minutos para escrever um texto. Tenho vários textos na cabeca, mas sao grandes demais para 11 minutos. 10. Acabei de ler o livro de Ignácio. Lágrimas nos ohos. O livro termina, "A folha que desprende, me prende. 9. Ignácio foi um cara completamente apaixonado pela cidade. Me vi muitas vezes em O Verde violentou o Muro. 8. Talvez Berlim representou para ele na década de 80, o que ela representa para mim hoje. Nao em todos aspectos, claro. Mas vejo muitas semelhancas. 7. Cidade louca, caótica. Ao mesmo tempo oferece paz, sossego. 6. Como isso pode ser conciliado numa cidade? Nao sei. Só vindo a Berlim. Na verdade, difícil descrever a cidade. Difícil dizer o porque gosto tanto daqui. 5. Talvez por, para o que se convencionou se chamar de alternativo, aqui é tido como completamente normal. Mas isso fica prum texto maior. 4. Bola de neve. Ontem aprendi o significado disso, nao figurado. E sim, literal. Nevasca em Berlim. 3. Hoje, sol e até "calor". É incrível a transformacao do indíduo devido à luz. Agora entendo o número de casos de suicídio e depressao na Escandinavia. E talvez nem entenda, lá é bem pior. 2. Ontem cai patinando no gelo, acho que torci o tornozelo. Ainda nao fui no médico. Sem tempo. Amanha sem falta. 1. Escrever, escrever... Texto para semana que vem. Ainda faltam 8 páginas. Será que consigo? 0.

1.2.10

Kotti

Kottbusser Tor, Kreuzberg, Berlin.

Lugar da cidade onde tudo acontece. Ruas cheias de gente, gentes multicoloridas, gente do mundo todo, torre de Babel. Fui ontem por lá, atrás de um centro cultural chamado New Yorcker, onde é na verdade a ocupacao em funcionamento mais antiga de Berlim. A origem do nome vem de outra ocupacao, que ficava na Yorckstraße, mas foi tomada pela polícia. Entao fundaram a Nova Yorcker, num prédio enorme na Mariannenplatz, fazendo uma brincadeira com NYC. Na quinta volto por lá pra trocar uma idéia com os moradores. Ainda nao sei como funciona uma ocupacao em Berlim.
Pelas ruas em torno da Kotti, dois garotos negros tentam arrombar ou roubar algo dos carros estacionados, quando me avistam, andam à passos apressados. Na estacao, dezenas de traficantes, viciados, mendigos. Os traficantes têm de tudo. Os viciados nao têm mais nada. E os mendigos sao até simpáticos. No piso de cima, segurancas com seus pastores alemaes.
Por lá existem vários bares, restaurantes, boates e vários dönner laden (lojas). Lugar das nossas primeiras rondas por Berlim atrás de algo realmente Berlim. Sujo, alternativo, louco e com cerveja barata. Isso acabou se resumindo muitas vezes em sentar na calcada com uma cerveja na mao e trocar algumas palavras com punks que passavam com seus cachorroes.
Ontem, algo novo. Hotel, bar de cerveja nao muito barata, mas com música ao vivo. Jazz e bossa nova foi o que ouvimos. Um dos melhores lugares de Berlim. Talvez o melhor num domingo à noite. Cena surreal: Os músicos chegavam aos montes com suas guitarras embaixo do braco, tentando uma horinha pra tocar.
Na volta pra casa, linha U1, linha essa que parece sair de algum conto de realismo fantástico, gentes loucas, sempre. Um homem comeca a pedir dinheiro pra todos do meu vagao, senhoras e senhores, comeca. Fala por uns 2 minutos. Dou 50 centavos a ele, que senta e comeca a falar. O mundo está perdido. O sistema nao funciona mais. Até a seguridade social da Alemanha, tida como quase perfeita, está perdida. Diz, inclusive, ter perdido a casa onde morava, uma semana antes do Natal. Cheguei na minha estacao, pena ter que ir, queria conversar mais com o homem. No vagao, eu estava só.